quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Saúd Mitre: do Libano para Cláudio




Uma imigrante libanesa que ajudou a escrever a um pouco da nossa história

                                                                                               
Quem deseja conhecer um pouco da história Claudiense não pode esquecer o grupo de imigrantes libaneses que chegaram à cidade a partir das primeiras décadas do século XX, dando assim a origens há várias famílias que fazem parte da sociedade de Cláudio.

A imigração libanesa vai dos hábitos culinários transmitidos de geração a geração, passando por empreendimentos e fatos que integram a nossa trajetória. São vários os imigrantes libaneses – equivocadamente chamados de turcos por algumas pessoas – que aportaram em Cláudio nas primeiras décadas do século passado, instituindo costumes assimilando outros e ajudando, enfim a compor o cotidiano de Cláudio. 

Um desses imigrantes que se se destacou foi Saúd Jorge Bechelane, filha de João Jorge e Maria Jorge, descendente de família nobre, nasceu no dia dezessete de abril de 1895, na cidade de Salima, no Libano.

Viveu sua infância e juventude dentro dos costumes orientais, um misto de severidade, amor e carinho. 

Aos nove anos de idade, Saúd foi com a família despedir-se de parentes que vinham para ao Brasil a procura de trabalho. Rachid que, na época, tinha doze anos de idade, estava entre eles e, naquele momento de despedida, jurou que um dia voltaria ao Libano para buscar aquela menina que seria seu grande amor.

Noticias de Saúd vinham nas cartas de parentes e assim ele acompanhou sua juventude a distancia. Retrato nem pensar! O medo de perdê-la o impulsionou a escrever-lhe uma carta em 1909.  A carta chegou ao Libano através de uma prima e debaixo de muito segredo. Nela Rachid declara seu amor a Saúd e a pede em casamento. Seu pedido foi logo aceito pela bela jovem.

Em 1910, Rachid partiu em busca de seu sonho e encontrou-a moça formosa e angelical. Apesar de seu ímpeto em abraçá-la, teve de contentar-se apenas em beijar-lhe a mão.Formalizou-se o casamento, mas mesmo assim o pai de Saúd não permitiu que ela viesse para o Brasil com Rachid. Só poderia vir se fosse acompanhada por tios que, por acaso, aqui viessem. Por isso, eles aguardaram por dois anos ate se encontrarem novamente.

Em janeiro de 1912, depois de uma viagem de trinta dias de navio, chegou ao Brasil acompanhada pelos tios. 
No dia três de fevereiro de 1912, cidades de Oliveira MG, com a presença de alguns tios, Saúd e Rachid realizaram o grande sonho, o casamento. Agora, madame Saúd Mitre, viera residir na vila de Cláudio MG.

Sempre muito simpática e carinhosa, conquistou rapidamente amizade de todos, principalmente dos mais pobres. Era dona de casa, eximia costureira e bordadeira. Alem de fazer lindos crochês, cuidava do jardim, pois gostava muito de flores. O afamado pão árabe que fazia toda semana era apreciado por todos.

Esposa dedicada e carinhosa, todas as noites lavava os pés de Rachid e os beijava enquanto ele beijava-lhe a fronte.
Os presentes que ganhava do marido eram sempre jóias valiosas que, nas quedas financeiras do marido, eram oferecidas por ela em garantia das dividas.

Estranhava alguns costumes brasileiros. Em sua terra natal, pessoas descalças eram tidas como loucas, as aqui se tratava de pobreza. Com isso ela resolveu se dedicar aos pobres.  Não discriminava ninguém, nem mesmo as chamadas “mulheres da vida”. Sempre foi muito solidária às pessoas que vinham de longe. As companhias de circo, muito pobres, que se instalavam na cidade chamavam-lhe a atenção; a elas enviava roupas e comida, principalmente para as crianças.

Tinha um coração aberto a todos. Recebia em sua casa os empregados de seu marido com grandes amigos e dava-lhes total assistência quando necessário. O mesmo acontecia com empregadas domésticas que dormiam no mesmo quarto de suas filhas. 
Fazia constantes visitas a todos que necessitavam de sua presença. Acostumada a morar em casa grande assobradada, usava vestidos afetado devido à queda do café que comandava o setor econômico, Saúd teve de morar num barraco e usar vestidos de chita e, mais uma vez, suas jóias foram empenhadas. Mas tudo isso ao ser amada pelo seu esposo e filhos. Sabia que em seu lar estava a verdadeira felicidade. Sempre de mãos dadas com seu esposo, tanto nas vitórias como nos fracassos, permaneceu firme até a última arrancada financeira em 1952, quando Rachid montou a Fundição Libaneza, que hoje faz parte da história econômica de Cláudio.

Em 1941, perdeu seu filho caçula, Humberto, com apenas cinco anos de idade. Esta sim foi a sua grande tristeza; já não sorria como antes e, muitas vezes, era vista com os olhos lacrimejantes. Porém, nunca deixou de ser grande esposa, mãe amiga, carinhosa e sensata.

A fé católica e as orações foram a força que a levou a educar seus dez filhos com grande sabedoria. Exemplo de mulher, sempre fez jus aos valores de seu grande esposo.
No dia cinco de setembro de 1957 perdeu o seu grande amor Rachid Mitre.
Saúde Mitre faleceu no dia cinco de fevereiro de 1959, um ano e meio após Rachid, em Cláudio, sua terra natal de coração.

A notícia de seu falecimento foi recebida 
com grande tristeza e constrangimento por toda população desta cidade que a ela tanto amara. 
Saiba Mais
A vinda de libaneses para Cláudio é parte de um movimento de imigração que ganhou força a partir do século XIX e continuou nas primeiras décadas do século XX e continuou neste período milhares de imigrantes chegaram no Brasil. 

Posteriormente vários outros chegaram ao país para se juntar aos parentes já estabelecidos, e originando uma colônia libanesa que conseguiu integrar-se a nova terra sem perder a identidade com sua nação de origem. Entre as causas da primeira onda de imigração estão o domínio do Líbano pela Turquia que se estendeu de 1516 até a derrota do turcos durante a primeira Guerra Mundial, incluindo, conflitos de natureza religiosa, e as buscas de melhores oportunidades de trabalho. 

1 – Biografia de Saúd Mitre gentilmente cedida pelo Grupo de Mães Saúd Mitre.

2 – Revista Tribuna ano III, nº 05, julho/05.

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