Almas, assombrações... ocupam área a 8 km do Centro de Carmo da Mata
Histórias ou estórias, a verdade é que muita gente já “sentiu” as coisas estranhas do lugar.
Os caçadores seguiam por uma trilha, tarde da noite, quando, ao virar em um descampado, os cães pararam como se estivessem dominados por um medo terrível. Uivavam baixo, nem latir conseguiam. Não restou outra coisa aos valentes caçadores, a não ser sair dali correndo, pois “tem coisa que a gente tem que temer...”. O negro pescador armou a isca no anzol , preparou-se e o arremessou longe. Ao bater na água, lá longe, um barulho imenso se fez ouvir atrás dele... como se o chão estivesse se abrindo. De um salto, ele saiu do local, e correu, correu, correu ,sem nem olhar pra trás...
Dizem os mais antigos que naquela área não nasce nada que se plante. Nem um pé de couve vai adiante. “Terras amaldiçoadas, por causa das muitas mortes de escravos, ocorridas ali...”, têm contado os mais velhos, que repassam para os mais novos, que contam as mesmas histórias um tempo depois. E assim tem sido construída a história daquele lugar, que tem estórias para todos os gostos. E que metem medo. Medo, e respeito a quem as ouve. Medo de ser vítima de um destes acontecimentos e, respeito, pela memória daqueles que viveram no local e que podem estar cobrando por tudo que tiveram de passar.
Como começou a maldição do lugar?
A área era propriedade de um tal Coronel Teodorinho, que seria dono de quase todas as terras da região. A área onde “moram” as “almas do outro mundo”, teria sido herdada por um Dr. Paraíso, que seria genro do Coronel Teodorinho. Foram vários alqueires de terras que ele herdou e trabalhou. Naquela época, muitos escravos teriam sido mortos e enterrados no local. Conta-se que os meninos (principalmente as meninas) eram mortos logo após o nascimento, “para que a mãe voltasse logo ao trabalho”. Esses sofrimentos passados pelos escravos teriam ficado registrados em suas almas que, agora, não conseguem deixar o local.
Contam as estórias do lugar que as pessoas que passam por ali escutam gemidos, choros e lamentos... “é de arrepiar o barulho que fazem as correntes sendo arrastadas pelas almas dos negros que viveram no local, há muitos anos”, conta um senhor que experimentou a emoção (o grande medo) de passar algumas horas de uma noite na região. Disse que ouviu, também, o som dos chicotes dos feitores castigando escravos e os gritos dos negros, sofrendo os mais impiedosos castigos. Os senhores da época eram muito maus com seus escravos, afirmam as estórias.
Ouvindo de quem vivenciou os causos
José Moreira Neto, o ‘Seu’ Juca Moreira, tem 98 anos, mas mantém-se jovem ainda, de invejável memória e lucidez. E foi ele quem contou à reportagem da Tribuna, muitas das estórias que teriam acontecido na região, envolvendo as almas que teimam em permanecer no Paraíso, localidade distante cerca de 8 quilômetros do centro de Carmo da Mata. Seu Juca é homem respeitado na cidade, pela sua seriedade. Ele é proprietário de terras na região do Paraíso. Conta que “no local havia um ‘boqueirão’, onde apareciam espíritos e as famílias do lugar contavam que viam assombrações rondando o lugar”. Foi ele quem garantiu que “naquele lugar, no Cemitério dos Escravos, próximo de uma árvore pequena não adianta plantar, ali não nasce nada...”.
Nos registros oficiais de Carmo da Mata, consta a história de Lineu de Carvalho que explica que o local recebeu o nome de Paraíso, devido a um senhor conhecido na época por Dr. Paraíso, da cidade de Oliveira. Ele teria sido proprietário de praticamente toda a região, tendo herdado muitos alqueires de terra de seu sogro, o tal Coronel Teodorinho, de nome Teodoro Ribeiro de Oliveira e Silva.
Nos arquivos da Tribuna encontramos, também, o depoimento de Manoel Pedro dos Santos, o conhecido Manezinho, homem que morreu em idade avançada. Ele contava ter testemunhado o fato com vários pescadores que, ao jogar os anzóis na água, ouviam um outro barulho, que acontecia atrás deles. Segundo Manezinho, “muitos negros sofreram ali e suas almas vagam pelo lugar”. Outro que atesta as ocorrências, no mínimo estranhas, no lugar de nome Paraíso, como dito, a oito quilômetros distante do Centro da cidade, é Antônio de Assis Tavares, o Antônio Rola.
Segundo Antônio Rola, o lugar é “conhecido como Cemitério dos Escravos, porque antigamente os senhores de escravos matavam os recém-nascidos para que as mães viessem logo para o trabalho. No porão daquelas fazendas havia troncos para prender os escravos”. Sofrimento, vingança...
Verdade ou lendas, o fato é que o Paraíso de Carmo da Mata tem ainda muita história a ser contada, a partir das estórias de tantos tempos passados. Assim, é necessário que os incrédulos tirem ‘a prova dos nove’, passando uma noite inteira no lugar. Sozinho, no meio do mato. E que registre tudo, em câmera de vídeo – isto, se as almas que ali vivem se deixarem filmar, ou mesmo gravar seus sons... Quem se arrisca? A reportagem da Tribuna, infelizmente, não vai poder acompanhar estes fatos, pois já temos compromisso anteriormente agendado. Vai lá, vai!...
Com reportagem de Sérgio Cunha e Fotos Tribuna do Carmo - Série Melhores Reportagens - Tribuna do Carmo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário