segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Cláudio de arraial a cidade : 111 anos de emancipação político administrativa



Moderada a euforia causada pela emancipação em 30 de agosto de 1911, os claudienses passaram a aguardar os festejos e as solenidades da instalação da cidade, recém desmembrada de Oliveira. 

Os meses foram se passando e os cidadãos claudienses tiveram que esperar quase um ano para a instalação do município, que aconteceu no dia 1º de julho de 1912.  

No dia da instalação o município revestiu-se de grande solenidade com a participação de toda a população e de convidados de diversas localidades para os festejos comemorativos da instalação, a cidade se viu apinhada de pessoas que, ansiosamente, aguardavam o evento. A sede do novo município caprichosamente ornamentada em suas principais ruas oferecia um aspecto aconchegante e hospitaleiro que realçava a beleza topográfica da cidade, cujos edifícios principais bem tratados atestavam a abastança e o conforto de uma sociedade culta. Às 04:00 horas da manhã, após uma salva de 21 tiros de dinamite, foi hasteado no paço municipal o pavilhão nacional, executado o Hino Nacional; logo em seguida saiu uma avultada passeata acompanhada de duas excelentes bandas claudienses. 

Às 09:00 horas, grande multidão acompanhada pelas bandas de músicas e orientada pela comissão dos festejos aguardava na plataforma da estação ferroviária a chegada dos convidados pelo expresso das 09:00 horas. Ao chegar o comboio, ao som de dobrados marciais e estourar de foguetes ergueram-se aclamações e saudações aos convidados que ali desembarcavam: Deputado Ferreira de Carvalho, representantes do Governo do Estado, Dr. Francisco Sales, ao Coronel João Alves de Oliveira e ao redator do Jornal Gazeta de Minas da cidade de Oliveira, Olympio de Castro. 

De volta da estação, ao passar o cortejo pela Rua Direita, da sacada do paço municipal, o ilustre farmacêutico Clarimundo Agapito Pais saudou o deputado Ferreira de Carvalho; logo depois da saudação de Clarimundo o deputado em um brilhante discurso de improviso prometeu seus esforços em prol da nova cidade de Cláudio. A comitiva dirigiu-se em seguida para a residência do Sr. Antônio Guimarães onde foi servido um excelente almoço aos convidados. Logo após o almoço, iniciou-se a missa solene celebrada pelo querido vigário na época, João Alexandre de Mendonça, que também concedeu bênção para o novo município. Dando sequência aos festejos foi organizada uma belíssima procissão conduzindo o crucifixo até o prédio do paço onde foi colocado em um nicho próprio, no salão nobre da Câmara. Neste momento, usaram da palavra o vigário João Alexandre de Mendonça enaltecendo a sociedade claudiense, dando parabéns e evocando bênçãos do céus para o novo município, discurso esse que foi muito aplaudido pelos presentes. 

Às 12:00 horas tomaram assento os vereadores, presidindo a sessão o vereador José Gonçalves Ferreira Primo, por ser o mais velho e que já presidia as sessões preparatórias, secretariado pelo vereador mais moço Ascânio Cândido de Moraes Castro que, de pé e com a mão no livro dos Santos Evangelhos, prestando assim o juramento que foi seguido pelos demais vereadores. Nesse momento, houve uma salva de fogos de artifícios, o Hino Nacional foi executado e os vereadores cobertos por confetes dourados por gentis senhoras. 

Em seguida, lavrou-se o termo de instalação do município e a eleição do presidente, sendo eleito unanimemente o Major Joaquim da Silva Guimarães, presidente da Câmara.  Sendo assim, o Major Joaquim da Silva Guimarães assumiu a presidência e declarou que ia proceder a eleição de vice-presidente e secretário; para vice-presidente foi eleito o farmacêutico Clarimundo Agapito Pais e para secretário Dr. Felício Brandi. Também naquele momento ficaram definidas as comissões permanentes. Na época da instalação do município de Cláudio, em julho de 1912, quem exercia o poder executivo nas cidades eram as Câmaras Municipais através do seu presidente, que tinham funções executivas como as das atuais prefeituras de hoje. 

O farmacêutico Clarimundo leu vários telegramas e cartas do Governo do Estado, dando os parabéns e fazendo votos pela prosperidade da comunidade. Também foi apresentado ofício do senhor chefe de Polícia do Estado que não estava presente, mas que se fazia representado pelo delegado Carlos Libâneo Rodrigues. Por intermédio de sua netinha, Maria José Victoy Pais, filha do ilustre vereador Clarimundo Agapito Pais, a primeira professora nomeada para Cláudio que, em 1912, já se encontrava aposentada a Sra. Maria de Jesus Pais, a Sá Mestra, remeteu um ofício oferecendo um tinteiro de fino valor e uma caneta e pena de ouro para serem usados na nova Câmara Municipal da nova cidade. 

A criança Maria José recebeu os agradecimentos e retirou-se debaixo de uma chuva de confetes dourados. Clarimundo Agapito Pais tomou a palavra e fez o discurso oficial apresentando inda inúmeras cartas de congratulações pelo acontecimento, entre elas a do deputado Pandiá Calógeras Senna Figueiredo e Lamounier e do Sr. Luís Antônio, dentre outras. O deputado Ferreira de Carvalho, em um eloquente e primoroso discurso, saudou o novo município e seus batalhadores, recebendo vivas e aplausos da multidão que aclamou entusiasmadamente. Seu discurso foi sucedido pelos senhores Dr. Oliveira Braga, Dr. Ronan da Silva, o vigário João Alexandre de Mendonça e, por último, Pedro Aragão e Carmona que falou em espanhol e salientou os serviços da venerada professora D. Maria de Jesus Pais, a Sá Mestra, e na ocasião também destacou a importância do vigário na formação da atual sociedade e dos ilustres iniciadores da criação do município, o Major Joaquim da Silva Guimarães e o farmacêutico Clarimundo Agapito Pais. Terminadas as solenidades houve bênçãos do Santíssimo Sacramento pelo vigário acolitado e pelo seu ilustre coadjutor Padre Henrique de Moraes.

Mais festejos 

Depois da noite glamourosa com baile no salão nobre da Câmara e sessão cinematográfica no cinema permanente local. No dia seguinte, também houve baile e mais sessão cinematográfica. A Câmara Municipal já em atividade também realizou várias reuniões para se tratar de matérias urgentes; em sua terceira sessão, o secretário Dr. Felício Brandi através de requerimento sugeriu que a Câmara e as autoridades acompanhassem o ilustre deputado Ferreira de Carvalho até a Estação Ferroviária por ocasião de sua partida da cidade. 

O vereador Clarimundo Agapito Pais comovido e grato fez um discurso de despedida representando o povo de Cláudio; Ferreira de Carvalho, da plataforma do vagão, despediu-se e agradeceu a receptividade da mais nova cidade de Minas Gerais. A Câmara, em sua sessão de posse, apresentou-se uma moção unânime aprovada pelos edis de agradecimentos e apoio ao Coronel Bueno Brandão, Dr. Delfim Moreira, Ferreira de Carvalho, Senna Figueiredo e Dr. Francisco Sales.  

A comissão de festejos da Instalação do Município de Cláudio era composta pelo Coronel Domingos Guimarães, Carlos Libâneo, Capital João Cândido de Moraes Castro, João Batista de Assis e Ascânio Candido de Moraes Castro, também existia comissão de ornamentação composta pelos senhores Inocêncio Amorim, João Gonçalves C. Sobrinho, João Calixto, Virgílio Moura, Jupyra Lopes e as senhoras Iracema Amorim, Isaltina Victoy, Maria Mourão e D. Mariana de Assis. E assim, em meio a maior alegria, entusiasmo e vibração, os claudienses com os olhos fixos em Deus e em sua Padroeira Nossa Senhora da Conceição Aparecida, deram início à nova vida alicerçada nos preceitos da ordem do progresso.
Moderada a euforia causada pela emancipação em 30 de agosto de 1911, os claudienses passaram a aguardar os festejos e as solenidades da instalação da cidade, recém desmembrada de Oliveira. Os meses foram se passando e os cidadãos claudienses tiveram que esperar quase um ano para a instalação do município, que aconteceu no dia 1º de julho de 1912.  No dia da instalação o município revestiu-se de grande solenidade com a participação de toda a população e de convidados de diversas localidades para os festejos comemorativos da instalação, a cidade se viu apinhada de pessoas que, ansiosamente, aguardavam o evento. A sede do novo município caprichosamente ornamentada em suas principais ruas oferecia um aspecto aconchegante e hospitaleiro que realçava a beleza topográfica da cidade, cujos edifícios principais bem tratados atestavam a abastança e o conforto de uma sociedade culta. Às 04:00 horas da manhã, após uma salva de 21 tiros de dinamite, foi hasteado no paço municipal o pavilhão nacional, executado o Hino Nacional; logo em seguida saiu uma avultada passeata acompanhada de duas excelentes bandas claudienses. Às 09:00 horas, grande multidão acompanhada pelas bandas de músicas e orientada pela comissão dos festejos aguardava na plataforma da estação ferroviária a chegada dos convidados pelo expresso das 09:00 horas. Ao chegar o comboio, ao som de dobrados marciais e estourar de foguetes ergueram-se aclamações e saudações aos convidados que ali desembarcavam: Deputado Ferreira de Carvalho, representantes do Governo do Estado, Dr. Francisco Sales, ao Coronel João Alves de Oliveira e ao redator do Jornal Gazeta de Minas da cidade de Oliveira, Olympio de Castro. De volta da estação, ao passar o cortejo pela Rua Direita, da sacada do paço municipal, o ilustre farmacêutico Clarimundo Agapito Pais saudou o deputado Ferreira de Carvalho; logo depois da saudação de Clarimundo o deputado em um brilhante discurso de improviso prometeu seus esforços em prol da nova cidade de Cláudio. A comitiva dirigiu-se em seguida para a residência do Sr. Antônio Guimarães onde foi servido um excelente almoço aos convidados. Logo após o almoço, iniciou-se a missa solene celebrada pelo querido vigário na época, João Alexandre de Mendonça, que também concedeu bênção para o novo município. Dando sequência aos festejos foi organizada uma belíssima procissão conduzindo o crucifixo até o prédio do paço onde foi colocado em um nicho próprio, no salão nobre da Câmara. Neste momento, usaram da palavra o vigário João Alexandre de Mendonça enaltecendo a sociedade claudiense, dando parabéns e evocando bênçãos do céus para o novo município, discurso esse que foi muito aplaudido pelos presentes. Às 12:00 horas tomaram assento os vereadores, presidindo a sessão o vereador José Gonçalves Ferreira Primo, por ser o mais velho e que já presidia as sessões preparatórias, secretariado pelo vereador mais moço Ascânio Cândido de Moraes Castro que, de pé e com a mão no livro dos Santos Evangelhos, prestando assim o juramento que foi seguido pelos demais vereadores. Nesse momento, houve uma salva de fogos de artifícios, o Hino Nacional foi executado e os vereadores cobertos por confetes dourados por gentis senhoras. Em seguida, lavrou-se o termo de instalação do município e a eleição do presidente, sendo eleito unanimemente o Major Joaquim da Silva Guimarães, presidente da Câmara.  Sendo assim, o Major Joaquim da Silva Guimarães assumiu a presidência e declarou que ia proceder a eleição de vice-presidente e secretário; para vice-presidente foi eleito o farmacêutico Clarimundo Agapito Pais e para secretário Dr. Felício Brandi. Também naquele momento ficaram definidas as comissões permanentes. Na época da instalação do município de Cláudio, em julho de 1912, quem exercia o poder executivo nas cidades eram as Câmaras Municipais através do seu presidente, que tinham funções executivas como as das atuais prefeituras de hoje. O farmacêutico Clarimundo leu vários telegramas e cartas do Governo do Estado, dando os parabéns e fazendo votos pela prosperidade da comunidade. Também foi apresentado ofício do senhor chefe de Polícia do Estado que não estava presente, mas que se fazia representado pelo delegado Carlos Libâneo Rodrigues. Por intermédio de sua netinha, Maria José Victoy Pais, filha do ilustre vereador Clarimundo Agapito Pais, a primeira professora nomeada para Cláudio que, em 1912, já se encontrava aposentada a Sra. Maria de Jesus Pais, a Sá Mestra, remeteu um ofício oferecendo um tinteiro de fino valor e uma caneta e pena de ouro para serem usados na nova Câmara Municipal da nova cidade. A criança Maria José recebeu os agradecimentos e retirou-se debaixo de uma chuva de confetes dourados. Clarimundo Agapito Pais tomou a palavra e fez o discurso oficial apresentando inda inúmeras cartas de congratulações pelo acontecimento, entre elas a do deputado Pandiá Calógeras Senna Figueiredo e Lamounier e do Sr. Luís Antônio, dentre outras. O deputado Ferreira de Carvalho, em um eloquente e primoroso discurso, saudou o novo município e seus batalhadores, recebendo vivas e aplausos da multidão que aclamou entusiasmadamente. Seu discurso foi sucedido pelos senhores Dr. Oliveira Braga, Dr. Ronan da Silva, o vigário João Alexandre de Mendonça e, por último, Pedro Aragão e Carmona que falou em espanhol e salientou os serviços da venerada professora D. Maria de Jesus Pais, a Sá Mestra, e na ocasião também destacou a importância do vigário na formação da atual sociedade e dos ilustres iniciadores da criação do município, o Major Joaquim da Silva Guimarães e o farmacêutico Clarimundo Agapito Pais. Terminadas as solenidades houve bênçãos do Santíssimo Sacramento pelo vigário acolitado e pelo seu ilustre coadjutor Padre Henrique de Moraes.
Mais festejos 

Depois da noite glamourosa com baile no salão nobre da Câmara e sessão cinematográfica no cinema permanente local. No dia seguinte, também houve baile e mais sessão cinematográfica. A Câmara Municipal já em atividade também realizou várias reuniões para se tratar de matérias urgentes; em sua terceira sessão, o secretário Dr. Felício Brandi através de requerimento sugeriu que a Câmara e as autoridades acompanhassem o ilustre deputado Ferreira de Carvalho até a Estação Ferroviária por ocasião de sua partida da cidade. O vereador Clarimundo Agapito Pais comovido e grato fez um discurso de despedida representando o povo de Cláudio; Ferreira de Carvalho, da plataforma do vagão, despediu-se e agradeceu a receptividade da mais nova cidade de Minas Gerais. A Câmara, em sua sessão de posse, apresentou-se uma moção unânime aprovada pelos edis de agradecimentos e apoio ao Coronel Bueno Brandão, Dr. Delfim Moreira, Ferreira de Carvalho, Senna Figueiredo e Dr. Francisco Sales.  

A comissão de festejos da Instalação do Município de Cláudio era composta pelo Coronel Domingos Guimarães, Carlos Libâneo, Capital João Cândido de Moraes Castro, João Batista de Assis e Ascânio Candido de Moraes Castro, também existia comissão de ornamentação composta pelos senhores Inocêncio Amorim, João Gonçalves C. Sobrinho, João Calixto, Virgílio Moura, Jupyra Lopes e as senhoras Iracema Amorim, Isaltina Victoy, Maria Mourão e D. Mariana de Assis. E assim, em meio a maior alegria, entusiasmo e vibração, os claudienses com os olhos fixos em Deus e em sua Padroeira Nossa Senhora da Conceição Aparecida, deram início à nova vida alicerçada nos preceitos da ordem do progresso.
 

Tribuna de Cláudio

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Os Primeiros habitantes de Cláudio: a Nação Indígena dos Cataguás



Os primeiros habitantes da região onde se encontra Cláudio eram membros de uma das mais famosas nações indígenas brasileiras, os Cataguás (Catauás). Eles ficaram conhecidos pelo terror que causavam aos bandeirantes paulistas e por terem ocupado toda a região, das nascentes do Rio Pará à Serra do Itatiaiuçu, sertões do Pium-i e Tamanduá (Itapecerica). O historiador Diogo de Vasconcelos descreveu o período, mostrando as dificuldades enfrentadas pelos primeiros exploradores dessas terras, quando as constantes guerras deslocavam as tribos indígenas e abriam novos caminhos para o interior.

Cláudio, cujo nome primitivo era “Paragem de Cláudio”, numa referência a um antigo local de descanso para viajantes, se inclui entre as cidades mineiras cuja fundação não se liga à presença do ouro ou de gemas preciosas e sim aos caminhos que levavam ao ouro e a toda a estrutura que se formou ao longo das chamadas ‘picadas’. O povoamento da região é parte do processo histórico de colonização do Brasil. Apesar de todos os interesses essencialmente comerciais que predominavam no chamado ‘Pacto Colonial’ determinado pela colônia portuguesa, houve necessidade de povoar as colônias e organizar um modelo econômico e administrativo.

Na Capitania de Minas Gerais, além dos desbravadores, surgem novos personagens em decorrência da diversificação das atividades econômicas. São os comerciantes fixos (donos de venda), os comissários, os atravessadores e os comerciantes de estrada, também conhecidos como marchantes ou viandantes. Dentre estes, os tropeiros eram os que realizavam o comércio mais típico, tendo percorrido os caminhos das minas desde o início de seu povoamento. 
Sesmarias

O ano de 1750, segundo alguns historiadores, marca o início do declínio da produção aurífera brasileira. O monopólio do comércio com Portugal e as leis que limitavam preços ou restringiam a produção, culminando com a proibição de manufaturas no Brasil, levaram a Colônia a concentrar seus esforços na agricultura, além da atividade mineradora já muito desgastada. A fertilidade do solo e a existência de famílias de localidades circunvizinhas atraíram pessoas de várias regiões. É importante a presença dos sesmeiros nesse momento da história de Cláudio, como de outras cidades da região. Eles promoveram o povoamento, admitindo colonos, doando terras, incrementando a produção agrícola.

Tanto a “Paragem do Cláudio” como outros pousos, ranchos e pequenas vilas motivaram pedidos de ‘sesmarias’ aos administradores da Capitania. Como se sabe, sesmaria é um pedaço de terra devoluta — ou cuja cultura foi abandonada — tomado a um presumido proprietário para ser entregue a um agricultor ou sesmeiro, estando a posse da terra vinculada ao seu aproveitamento. Algumas sesmarias foram concedidas no começo do século XVIII, como as que deram origem ao Arraial do Japão ou Carmópolis de Minas (1705), a São João Batista (Morro do Ferro) e a São Francisco de Paula e Passa Tempo.
Em Cláudio, somente em 17 de outubro de 1754 foi concedida a primeira sesmaria. O primeiro cidadão a requerer uma sesmaria na região foi o português Manoel Carvalho da Silva. Segundo o historiador David de Carvalho, o sesmeiro, antes de requerer sua sesmaria, já havia comprado o direito de posse a José Jácomo Raposo e Bento de Oliveira Ramos. No seu requerimento, citava como posseiros confrontantes Antônio Francisco, Bartolomeu da Silva, José Álvares da Costa e Francisco da Costa. E declarava que já morava nas terras que estava requerendo, que divisava com ele próprio ao norte, ou seja, na direção da cidade de Divinópolis. 

Conforme o historiador, pela descrição feita no requerimento do português, já existiam posseiros naquelas terras, sendo o lugar conhecido como “Paragem de Cláudio”, nome presente no documento. Segundo o que se sabe, Manoel Carvalho da Silva era solteiro e vivia sozinho, considerando-se um ‘desterrado’ de sua pátria, Portugal. Segundo o escritor e poeta divinopolitano Lázaro Barreto, pesquisador da história da região, o primeiro sesmeiro de Cláudio construiu sua fazenda em terreno próximo a Desterro, hoje Marilândia. De sua fazenda, podia contemplar a torre da igreja que mandara construir no povoado, em homenagem a Nossa Senhora do Desterro. 

Sobre a casa a que se refere o trecho acima, expressou- Lázaro Barreto, em artigo para o jornal “Magazine”, de Divinópolis, republicado na revista “Estação Cultura”, de Cláudio, nos anos de  2000 e de 2002, respectivamente:
“Gostaria de (...) contar a história da Fazenda do Sertão do Tamanduá, que também se chamou de Boa Vista, dos Moinhos, do Quinzinho. Sede de uma sesmaria concedida em 1754, na chamada Paragem do Cláudio, do referido sertão, comprada por Manoel Carvalho da Silva, português filho de outro português do mesmo nome, que foi um dos fundadores da Vila de Sabará, a terceira de Minas Gerais. Antes de chegar à região, esse Manoel esteve em Vila de Pitangui, lavrando nas fartas jazidas auríferas de lá. (...) Em 1754, já de posse legal da sesmaria, construiu a Igreja de Nossa Senhora do Desterro, no alto de um morro a uma légua de distância, em seu terreno, de forma a vê-la frontalmente do alpendre de seu casarão, que até dois meses atrás estava de pé, com seus 22 cômodos e 12 janelas (...)”.

Continua Lázaro Barreto: “O lugar era (e é)  privilegiado topograficamente: ao pé de um rio (o Boa Vista), aurífero, ao lado de uma montanha coberta de matas e grutas — e a vastidão aprazível das planícies municipais de Carmo da Mata, Cláudio, Divinópolis e Itapecerica. O casarão colonial — quase tricentenário, com os barracões anexos, o curral, o pomar e a senzala no porão, devia ser muito freqüentado pelos viajantes da época, que vinham de São Paulo em trânsito para Goiás, e os que vinham de Sabará e de Vila Rica para o proveito das novas minerações do Tamanduá (Itapecerica), Lavrinha (Desterro, hoje Marilândia) e Serra Negra (São Sebastião do Oeste).” 
Outra sesmaria requerida nessa época foi a de Francisco José, nas cabeceiras do Ribeirão de Cláudio, em 16 de agosto de 1768. Francisco José construiu sua sede na Vargem Alegre, na bifurcação de dois córregos (um que desce do lugar conhecido como Gambá e outro que vem das Perobas), propriedade dos herdeiros de José Hilário Guimarães. O terceiro sesmeiro foi Francisco Pires Campos, que solicitou a sua nas margens do Ribeirão do Cláudio, em 18 de agosto de 1768, construindo sua sede entre o Ribeirão do Cláudio e o Ribeirão de São Domingos, na Fazendinha, hoje pertencente aos herdeiros de João Ferreira Pinto.

A confrontação das três sesmarias permitiu ao historiador David de Carvalho concluir que “os Costas são os primeiros habitantes da região de Cláudio, vindos talvez dos  Costas Guimarães” que aportaram na região onde hoje se encontra a cidade de Carmópolis de Minas. José Álvares da Costa, Francisco da Costa e João Álvares da Costa eram os confrontantes dos primeiros sesmeiros.

►Capela e Vila

Ao final do século XVIII, Cláudio contava com 1.030 habitantes em 165 casas, conforme censo demográfico promovido em 1795 pela Matriz de Santo Antônio da Vila de São José. Foi publicada uma tabela consubstanciada do movimento de habitantes e seus prédios, calculados somente pelo número de pessoas que se confessaram e receberam comunhão. A Capela de Cláudio era filial da Freguesia de São José Del Rei, e era regida pelo padre Pedro José.

A centralização política na capital, a limitação dos centros de poder local dos latifundiários nas Câmaras Municipais, a força coercitiva da Metrópole monopolista que restringia a produção e a proibição de manufaturas no Brasil provocaram o início de processos emancipatórios, como o da Inconfidência Mineira (1789), que trouxe em seu bojo um projeto político com idéias razoavelmente avançadas.

Durante esse período de efervescência política, ‘graças às suas condições climáticas, e  sobretudo ao desenvolvimento da agricultura, formou-se o Arraial do Cláudio, tributário de São José del Rei. Ele tinha a capela de Nossa Senhora da  Conceição, cuja construção ocorreu possivelmente no final da década de 1750 e começo da seguinte, de acordo com registro da visita pastoral feita em 1824 por Dom José da Santíssima trindade. Nele se faz menção a uma pia batismal que existia desde 1761.

Em 1861, Oliveira é elevada à categoria de cidade e, em 1868, à condição de comarca, com o nome de Comarca do Rio Lambari. Para Cláudio, essa foi uma boa notícia, pois foi questão de tempo até sua independência político-administrativa em relação a Oliveira.

No período republicano, iniciado em 1889, o Conselho Distrital de Cláudio, órgão administrativo subordinado a Oliveira, ganha mais força política. Mas é só no começo do século XX que a situação toma o rumo tão desejado pelos políticos claudienses. Em 1909, o Distrito foi elevado à condição de Vila, em consequência de um pedido que cidadãos influentes fizeram ao Congresso Legislativo do Estado. Dentre esses cidadãos, destacaram-se o farmacêutico Clarimundo Agapito Paes e o Coronel Joaquim da Silva Guimarães. O segundo presidente do Conselho foi José Cândido de Moraes Castro, cuja família deu significativa contribuição ao desenvolvimento da cidade.

►Emancipação

Cláudio permaneceu como parte do Município de Oliveira até 30 de agosto de 1911, quando, por força da Lei nº 556, foi emancipado, sendo criado o Município, cuja instalação se deu em 1º de junho de 1912, sob a presidência do Coronel Joaquim da Silva Guimarães e a participação dos vereadores Clarimundo Agapito Paes, Dr. Felício Brandi, Ascânio Cândido de Moraes Castro, José Gonçalves Ferreira Primo e João Batista de Assis.

A nova Câmara conseguiu avanços para a vida sócio-econômica da cidade, entre elas a Estrada de Ferro Oeste de Minas, que em 8 de junho de 1912 inaugurou sua estação na cidade, garantindo maior facilidade ao escoamento da produção de café e uma interligação mais rápida com outros centros. Paralelamente, ocorreu a evolução da estrutura judiciária de Cláudio. Em 10 de setembro de 1925 foi criado o Termo de Cláudio. Ele era subordinado à Comarca de Oliveira e foi solenemente instalado em 20 de março de 1927.

A partir de 1930, Cláudio tomou novo impulso. A Prefeitura funcionava sob a intervenção do ‘Conselho Consultivo’, na administração de Custódio Costa. O Judiciário ganhava autonomia, com a criação da Comarca de Cláudio, em 14 de julho de 1947, e sua efetiva instalação, em 15 de setembro de 1948, tendo à frente Hélio Armond Werneck Cortes.

►Tribuna de Cláudio.

domingo, 14 de agosto de 2022

O Reinado de Nossa Senhora do Rosário é a manifestação cultural mais antiga do Município de Cláudio.

Reinado de Nossa Senhora do Rosário: Tradição e Religiosidade em Cláudio

O Reinado de Nossa Senhora do Rosário é a manifestação cultural mais antiga do Município de Cláudio.

Em 27 de novembro de 1854, o Bispo de Mariana, Dom Antônio Ferreira Viçoso, autorizou aos devotos de Nossa Senhora do Rosário a exercerem suas funções, rezas, terços e reinados na Capela da Aplicação de Cláudio (construída em 1761 e com escritura lavrada em 1775), "em virtude da avultada esmola com que concorreram para a nova capela de Nossa Senhora da Conceição", que estava sendo construída na outra extremidade do Largo do Rosário, e que viria a ser, anos mais tarde, a Igreja Matriz. 

Ao grupo de devotos que havia feito a solicitação a Dom Antônio, foi exigido que se formalizada a Irmandade do Rosário, à qual caberia a administração da Capela. Os Estatutos Sociais da Irmandade foram aprovados no ano seguinte, pelo bispo de Mariana (4 de fevereiro de 1856), e pelo Presidente da Província (13 de fevereiro de 1856).

Durante muitos anos a Festa do Rosário realizou-se naquela pequena igreja, até ser interrompida, provavelmente no início do século XX, por determinação do pároco local, que passara a considerar como rituais de magia negra os folguedos dos negros. Durante esse período, a Festa passou a se realizar nos arredores da cidade e nos povoados, com destaque para o Povoado do Bananal, onde os devotos se mantiveram firmes nas manifestações de sua fé.
Mesmo durante o período em que a Festa estivera proibida na cidade, os folguedos eram realizados nas imediações da Fazenda da Praia, tendo sido um dos últimos reis, o Cel. Joaquim da Silva Guimarães, o Quinca Barão.

Em 1945 era pároco de Cláudio, Padre Manuel da Cruz Libânio, que fez cessar a proibição, exigindo da Irmandade a extinção de qualquer vínculo com rituais profanos e de feitiçaria, mantendo estreita obediência aos preceitos da religião católica.

Naquele ano, Jesus Teixeira Pinto e Rosa de Freitas Teixeira, tendo recebido a Coroa no Povoado de Bananal, trouxeram as festividades novamente para a cidade. Nessa ocasião, dois ternos vieram do Bananal, portanto a Bandeira, em torno da qual realizou-se um encontro de todos os ternos, possivelmente nas proximidades do local onde anos mais tarde, seria construída a Capela do Coração Eucarístico de Jesus, em terreno de Antônio de Souza Júnior (Antônio "Sapateiro").

Em seguida, o cortejo seguiu em direção à praça onde antigamente se realizavam os festejos do Reinado (hoje Praça Levy Victoi de Freitas, anteriormente à construção do Automóvel Clube).
Dentre os participantes daquele primeiro Reinado do século XX, destacam-se os seguintes:

1° Capitão-General: Teodoro Marcelino
2° Capitão-General: Pedro Marcelino
Capitão: Antenor Rezende
Capitães da Guarda: Amâncio e Carlota

O Rei Congo, João Ferreira de Oliveira e a Rainha Conga Maria Rosalina de Jesus, no ano seguinte passaram suas coroas para Francisco Antônio da Costa (Chico Sudário) e Maria Neta. Eram reis perpétuos Vicente Teodósio Clemente e Orentina Maria da Conceição.

►Tribuna de Cláudio

#Reinado #CidadeCarinho #Cultura