quinta-feira, 29 de março de 2012

CRENÇA


MÃOS QUE CURAM, PALAVRAS QUE SARAM
Benzedeiras e Benzedores: a cura pela fé


Reprodução

Terço e folhas nas mãos, oração na ponta da língua e muita fé em Deus. As benzedeiras e benzedores que surgiram no Brasil com a chegada dos Jesuítas, no século XVI, são figuras presentes na cultura popular até os dias de hoje.
A benzeção, como várias outras práticas religiosas e médicas populares,  aflorou-se com intensidade no período Colonial Brasileiro e os fatores que propiciaram o desenvolvimento da prática da benzeção, com certeza, remetem à  precariedade da vida material, destacada pela raridade de médicos, de cirurgiões, de produtos farmacêuticos, e ao sincretismo dos povos em geral, que também contribuíram, e muito, para que a prática da benzeção se propagasse ainda mais.


Hérica Viotti
Senhor Zequinha da Serraria
Arquivo de Família
Amigas - Conceição, juntamente com a Sá Ducarmo
Nos primeiros tempos de colonização, homens e mulheres acreditavam que a doença era uma advertência divina. A enfermidade era vista por muitos pregadores e padres, e também por médicos da época, como uma medida salutar para os desagregamentos do espírito. Carmo da Mata também não podia deixar de ter seus benzedores e suas benzedeiras. As tradições dos benzedores e das benzedeiras fazem parte do cotidiano da vida dos carmenses, desde a formação urbana e social da cidade.
Arquivo de Família
Pedro Piassi
A Gazeta de Minas, em 1915, na edição 1.450, noticiava um fato pitoresco de uma possível benzedeira da época. “Há dias, fui procurado pelo italiano Carlos Manharelle, que me narrou o seguinte: ‘Tenho visto, por diversas vezes, no campo santo deste lugar, um vulto que fala, reza, chora, etc’”, dizia o correspondente da Gazeta de Minas, em Carmo da Mata. Segundo ele, a fim de comprovar se era verídico o caso que lhe foi contado pelo italiano, foi até o cemitério local. “A noite reinava, em tudo, um silêncio profundo, que só era interrompido, de quando em quando, pelo piar da coruja e pelo sibilar do vento. Foi justamente nessa hora lúgubre que vi penetrar no cemitério um vulto de mulher, que começou a andar de um túmulo para o outro, fazendo gestos, rezando e pronunciando palavras imperceptíveis. Felizmente, tratava-se de uma alma deste mundo”, afirmou, em seu texto, o correspondente da Gazeta de Minas, no Arraial de Carmo da Mata.
Na década de trinta, segundo o saudosista Arnaldo Sábato, existiam as seguintes benzedeiras e os benzedores: Dona Adelina, Mariano da Forquilha, Tia Bem (sogra do Adgenor Sacristão), Bem do Zé do Eduardo, entre outras personalidades. Benzedores renomados, como José Lagoa, Pedro Piassi e José Guarda-Chaves também fizeram história em Carmo da Mata.
Para muitos, eram eles que decidiam qual o melhor remédio contra cobreiro, bicheira, espinhela caída, vento virado, carne quebrada e mal olhado. Talvez a sociedade de hoje possa até não acreditar, mas, com certeza, sabe que as rezas e benzeduras ocuparam lugar de destaque dentro de nossa comunidade, por serem tão praticadas, a fim de se curar esses males que afligem o corpo e a alma.

Voltando aos nossos benzedores, podemos, também, destacar João Parente, Aparecida Lameu, Sô Gerson da Várzea, Dona Aparecida do Paroba, José Cândido (pai do Louro), Dona Binha (mãe do Louro), Sá DuCarmo (mãe do Jaú), Luzia Pimenta e Manezinho (pai do Tim).  Dona Divina, já citada na edição nº XX da Memória Carmense (suplemento cultural, em revista, desse periódico), em um artigo sobre as parteiras, também foi uma exímia benzedeira, que marcou seu tempo em Carmo da Mata.
Hérica Viotti
Maria Aparecida Lameu
Pedro Piassi, falecido há anos, era famoso, tanto em Carmo da Mata quanto em outras cidades da região Centro-Oeste de Minas. Pessoas vinham das cidades de Divinópolis, Oliveira, Cláudio e Itapecerica para serem benzidas por ele. Seu filho, Sebastião Piassi, o conhecido Fiinho, contou-nos algumas passagens de seu pai. “No dia de sua morte, veio um senhor, morador de Divinópolis, que me disse ser eternamente grato ao meu pai, pois ele o ajudou a se reerguer e a estabelecer seu comércio”, relatou Fiinho. “Uma outra passagem que recordo, de meu pai, foi do dia em que ele chegou em casa com o dedo inchado, pois havia sido mordido por uma cobra e, com sua serenidade habitual, pediu a um amigo que lhe emprestasse o chapéu que esse estava usando. Ele pegou o mesmo e, tirando um pouco de suor do chapéu, passou em seu dedo e rezou. O dedo melhorou e ele nada teve”, disse Fiinho.
Atualmente ainda se encontram benzedores e benzedeiras, uma delas é Maria Aparecida Lameu da Paixão, que há mais de vinte anos benze fervorosamente as pessoas que a procuram.
Aparecida aprendeu a benzer com sua mãe, a inesquecível Sá Ducarmo, que dizia sempre para a filha. “Não é a gente que cura, e sim Deus. Nós somos apenas um instrumento dele.”, ressaltava Sá Ducarmo.
Usando as seguintes palavras “Deus te fez o nome da pessoa, Deus te gerou, Deus vai tirar o mau que em seu corpo entrou”, assim Aparecida benzeu e curou a primeira pessoa em Carmo da Mata, a dona Nega do Chico Carroceiro. Desse dia em diante ela não parou mais, fazendo o bem a todos que a procuram.
Reprodução
É também conhecido, por suas rezas e devoção, o senhor José Maria dos Santos, o popular Zequinha da Serraria, de 69 anos. Benzedor há 57 anos, ele contou, em entrevista concedida à Tribuna do Carmo, como começou a ministrar suas primeiras benzeções.
Senhor Zequinha teve como mestre Antônio Mariano, que era médico e benzedor na cidade de Ouro Fino.  Senhor Zequinha sempre ia a Ouro Fino com a finalidade de buscar receitas médicas para os moradores da Comunidade do Batatal, localidade em que residia. E, nessas idas e vindas em busca de receituário, surgiu uma amizade entre os dois.  Um dia Antônio Mariano pediu aos pais de Zequinha que eles o deixassem passar uma temporada em Ouro Fino,  para que ele pudesse ajudar no engenho e no alambique recém adquirido por ele. Com a permissão de seus pais, o garoto de 12 anos foi ajudar o médico em seus negócios. Menino curioso, Zequinha começou a ler os livros de Antônio Mariano e a prestar atenção em suas rezas, até que um dia, o médico o chamou para ajudá-lo em suas benzeções.
Segundo senhor Zequinha, Antônio era tão afamado que as pessoas faziam filas em sua porta para poder receber sua bênção.
Após 6 anos residindo em Ouro Fino, senhor Zequinha voltou para Batatal e continuou a benzer naquela comunidade.
Depois de algum tempo, e já casado com Maria José Remígio dos Santos, ele veio morar aqui na cidade,  nunca deixando, no entanto, de atender a quem necessita de sua reza.
Hoje o senhor Zequinha atende pessoas de São Paulo, Brasília, Goiás, Mato Grosso, Belo Horizonte, Cláudio, Divinópolis, Oliveira, São Francisco de Paula, Santana do Jacaré, Campo Belo e de toda a nossa região que vem se tratar de doenças como vento virado, febre, lepra, dor de cabeça, mal olhado, quebrante, diarreia e muito mais. Usando água, ramos ou até mesmo um rosário, José Maria dos Santos, cura pela fé.

Um comentário:

  1. Ola,estou interessada em aprender a benzer crianças,acredito nas benzeduras feitas por pessoas escolhidas por Deus, obrigado por voces existirem. Nanci de Sao Paulo

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