quinta-feira, 29 de março de 2012

CRÔNICA: Um papo


Puxa-Saco
Giuliano Santos
Sempre me chamou profundamente a atenção a figura do puxa-saco. Evitado por todos na empresa, o destruidor de rodinhas, não raramente, costuma conquistar lugares ao sol em troca da própria ética e socialização. Adquiriu esse nome provavelmente através de uma gíria militar. Muitos dos oficiais guardavam suas roupas não em malas, mas em sacos, durante as viagens. E, obedientemente, alguns soldados se predispunham a carregar a bagagem dos superiores como prova de “respeito” e amizade “despretensiosa”, é claro.
Antes de ser acusado de homicídio, por enfartar meus leitores, por amargar suas bocas, por elevar sua pressão ao bendizer à tão odiada criatura, defendo-me afirmando que sou apenas o cronista. Não me queiram mal nem insiram meu nome no despacho, que o puxa-saco sobrevive e se multiplica e nada posso fazer. Enquanto houver carência afetiva no mundo, lá estará o puxa-saco, responsabilizando-se por garantir a autoestima do diretor, por levar-lhe sempre o caloroso e fiel abraço.
Puxa-Saco que se preza resiste ao tempo, não entra em desuso. Quem nunca teve o coleguinha de colégio que delatava as mínimas traquinagens e ainda recebia elogios da tia? Perdoem-me os diminutivos, mas quem não conheceu o vizinho engomadinho que se deu bem na vida por cuidar do chefinho? Estamos mal preparados para lidar com o puxa-saco porque não suportamos seu sucesso; desagradável que é, não se esforça para escamotear sua bajulação e, principalmente, suas conquistas.
 Tem puxa-saco que abre as canjicas só de ver o “agraceado”, atravessa a rua e desfere tapinha nas costas, prevendo os cifrões. Capacho que é capacho deixa o Cruzeiro e vira Galo de coração, decorando escalação e tudo. Já ouvi dizer que alguns até colocam foto do patrão na parede, só para não se desviar do objetivo. E aqueles que fazem hora extra de graça, furam greve, mandam música na rádio?
 Há casos em que o puxa-saco delata a firma inteira e ainda sai ileso, porque nele ninguém toca. Capacho de primeira só anda alinhado e não perde a pose, escancara o sorriso amarelo antecipando a piada do chefe. E o sorriso do puxa-saco é inigualável, diferente de todos os outros, é intenso, iluminado, quase apaixonado. O capacho está acima dos simples mortais, não se mistura porque faz questão de nos irritar com isso. E quando bebe? Puxa-Saco tonto inicia palmas pro gerente, “empresta” a mulher pro sujeito dançar, fala mal do inimigo do cara, presenteia, faz discurso, beija o rosto,etc.
 Bom, para finalizar, peço do fundo do peito, leitores, que não me julguem puxa-saco, mas precisando de alguma coisa...

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