quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Os Primeiros habitantes de Cláudio: a Nação Indígena dos Cataguás



Os primeiros habitantes da região onde se encontra Cláudio eram membros de uma das mais famosas nações indígenas brasileiras, os Cataguás (Catauás). Eles ficaram conhecidos pelo terror que causavam aos bandeirantes paulistas e por terem ocupado toda a região, das nascentes do Rio Pará à Serra do Itatiaiuçu, sertões do Pium-i e Tamanduá (Itapecerica). O historiador Diogo de Vasconcelos descreveu o período, mostrando as dificuldades enfrentadas pelos primeiros exploradores dessas terras, quando as constantes guerras deslocavam as tribos indígenas e abriam novos caminhos para o interior.

Cláudio, cujo nome primitivo era “Paragem de Cláudio”, numa referência a um antigo local de descanso para viajantes, se inclui entre as cidades mineiras cuja fundação não se liga à presença do ouro ou de gemas preciosas e sim aos caminhos que levavam ao ouro e a toda a estrutura que se formou ao longo das chamadas ‘picadas’. O povoamento da região é parte do processo histórico de colonização do Brasil. Apesar de todos os interesses essencialmente comerciais que predominavam no chamado ‘Pacto Colonial’ determinado pela colônia portuguesa, houve necessidade de povoar as colônias e organizar um modelo econômico e administrativo.

Na Capitania de Minas Gerais, além dos desbravadores, surgem novos personagens em decorrência da diversificação das atividades econômicas. São os comerciantes fixos (donos de venda), os comissários, os atravessadores e os comerciantes de estrada, também conhecidos como marchantes ou viandantes. Dentre estes, os tropeiros eram os que realizavam o comércio mais típico, tendo percorrido os caminhos das minas desde o início de seu povoamento. 
Sesmarias

O ano de 1750, segundo alguns historiadores, marca o início do declínio da produção aurífera brasileira. O monopólio do comércio com Portugal e as leis que limitavam preços ou restringiam a produção, culminando com a proibição de manufaturas no Brasil, levaram a Colônia a concentrar seus esforços na agricultura, além da atividade mineradora já muito desgastada. A fertilidade do solo e a existência de famílias de localidades circunvizinhas atraíram pessoas de várias regiões. É importante a presença dos sesmeiros nesse momento da história de Cláudio, como de outras cidades da região. Eles promoveram o povoamento, admitindo colonos, doando terras, incrementando a produção agrícola.

Tanto a “Paragem do Cláudio” como outros pousos, ranchos e pequenas vilas motivaram pedidos de ‘sesmarias’ aos administradores da Capitania. Como se sabe, sesmaria é um pedaço de terra devoluta — ou cuja cultura foi abandonada — tomado a um presumido proprietário para ser entregue a um agricultor ou sesmeiro, estando a posse da terra vinculada ao seu aproveitamento. Algumas sesmarias foram concedidas no começo do século XVIII, como as que deram origem ao Arraial do Japão ou Carmópolis de Minas (1705), a São João Batista (Morro do Ferro) e a São Francisco de Paula e Passa Tempo.
Em Cláudio, somente em 17 de outubro de 1754 foi concedida a primeira sesmaria. O primeiro cidadão a requerer uma sesmaria na região foi o português Manoel Carvalho da Silva. Segundo o historiador David de Carvalho, o sesmeiro, antes de requerer sua sesmaria, já havia comprado o direito de posse a José Jácomo Raposo e Bento de Oliveira Ramos. No seu requerimento, citava como posseiros confrontantes Antônio Francisco, Bartolomeu da Silva, José Álvares da Costa e Francisco da Costa. E declarava que já morava nas terras que estava requerendo, que divisava com ele próprio ao norte, ou seja, na direção da cidade de Divinópolis. 

Conforme o historiador, pela descrição feita no requerimento do português, já existiam posseiros naquelas terras, sendo o lugar conhecido como “Paragem de Cláudio”, nome presente no documento. Segundo o que se sabe, Manoel Carvalho da Silva era solteiro e vivia sozinho, considerando-se um ‘desterrado’ de sua pátria, Portugal. Segundo o escritor e poeta divinopolitano Lázaro Barreto, pesquisador da história da região, o primeiro sesmeiro de Cláudio construiu sua fazenda em terreno próximo a Desterro, hoje Marilândia. De sua fazenda, podia contemplar a torre da igreja que mandara construir no povoado, em homenagem a Nossa Senhora do Desterro. 

Sobre a casa a que se refere o trecho acima, expressou- Lázaro Barreto, em artigo para o jornal “Magazine”, de Divinópolis, republicado na revista “Estação Cultura”, de Cláudio, nos anos de  2000 e de 2002, respectivamente:
“Gostaria de (...) contar a história da Fazenda do Sertão do Tamanduá, que também se chamou de Boa Vista, dos Moinhos, do Quinzinho. Sede de uma sesmaria concedida em 1754, na chamada Paragem do Cláudio, do referido sertão, comprada por Manoel Carvalho da Silva, português filho de outro português do mesmo nome, que foi um dos fundadores da Vila de Sabará, a terceira de Minas Gerais. Antes de chegar à região, esse Manoel esteve em Vila de Pitangui, lavrando nas fartas jazidas auríferas de lá. (...) Em 1754, já de posse legal da sesmaria, construiu a Igreja de Nossa Senhora do Desterro, no alto de um morro a uma légua de distância, em seu terreno, de forma a vê-la frontalmente do alpendre de seu casarão, que até dois meses atrás estava de pé, com seus 22 cômodos e 12 janelas (...)”.

Continua Lázaro Barreto: “O lugar era (e é)  privilegiado topograficamente: ao pé de um rio (o Boa Vista), aurífero, ao lado de uma montanha coberta de matas e grutas — e a vastidão aprazível das planícies municipais de Carmo da Mata, Cláudio, Divinópolis e Itapecerica. O casarão colonial — quase tricentenário, com os barracões anexos, o curral, o pomar e a senzala no porão, devia ser muito freqüentado pelos viajantes da época, que vinham de São Paulo em trânsito para Goiás, e os que vinham de Sabará e de Vila Rica para o proveito das novas minerações do Tamanduá (Itapecerica), Lavrinha (Desterro, hoje Marilândia) e Serra Negra (São Sebastião do Oeste).” 
Outra sesmaria requerida nessa época foi a de Francisco José, nas cabeceiras do Ribeirão de Cláudio, em 16 de agosto de 1768. Francisco José construiu sua sede na Vargem Alegre, na bifurcação de dois córregos (um que desce do lugar conhecido como Gambá e outro que vem das Perobas), propriedade dos herdeiros de José Hilário Guimarães. O terceiro sesmeiro foi Francisco Pires Campos, que solicitou a sua nas margens do Ribeirão do Cláudio, em 18 de agosto de 1768, construindo sua sede entre o Ribeirão do Cláudio e o Ribeirão de São Domingos, na Fazendinha, hoje pertencente aos herdeiros de João Ferreira Pinto.

A confrontação das três sesmarias permitiu ao historiador David de Carvalho concluir que “os Costas são os primeiros habitantes da região de Cláudio, vindos talvez dos  Costas Guimarães” que aportaram na região onde hoje se encontra a cidade de Carmópolis de Minas. José Álvares da Costa, Francisco da Costa e João Álvares da Costa eram os confrontantes dos primeiros sesmeiros.

►Capela e Vila

Ao final do século XVIII, Cláudio contava com 1.030 habitantes em 165 casas, conforme censo demográfico promovido em 1795 pela Matriz de Santo Antônio da Vila de São José. Foi publicada uma tabela consubstanciada do movimento de habitantes e seus prédios, calculados somente pelo número de pessoas que se confessaram e receberam comunhão. A Capela de Cláudio era filial da Freguesia de São José Del Rei, e era regida pelo padre Pedro José.

A centralização política na capital, a limitação dos centros de poder local dos latifundiários nas Câmaras Municipais, a força coercitiva da Metrópole monopolista que restringia a produção e a proibição de manufaturas no Brasil provocaram o início de processos emancipatórios, como o da Inconfidência Mineira (1789), que trouxe em seu bojo um projeto político com idéias razoavelmente avançadas.

Durante esse período de efervescência política, ‘graças às suas condições climáticas, e  sobretudo ao desenvolvimento da agricultura, formou-se o Arraial do Cláudio, tributário de São José del Rei. Ele tinha a capela de Nossa Senhora da  Conceição, cuja construção ocorreu possivelmente no final da década de 1750 e começo da seguinte, de acordo com registro da visita pastoral feita em 1824 por Dom José da Santíssima trindade. Nele se faz menção a uma pia batismal que existia desde 1761.

Em 1861, Oliveira é elevada à categoria de cidade e, em 1868, à condição de comarca, com o nome de Comarca do Rio Lambari. Para Cláudio, essa foi uma boa notícia, pois foi questão de tempo até sua independência político-administrativa em relação a Oliveira.

No período republicano, iniciado em 1889, o Conselho Distrital de Cláudio, órgão administrativo subordinado a Oliveira, ganha mais força política. Mas é só no começo do século XX que a situação toma o rumo tão desejado pelos políticos claudienses. Em 1909, o Distrito foi elevado à condição de Vila, em consequência de um pedido que cidadãos influentes fizeram ao Congresso Legislativo do Estado. Dentre esses cidadãos, destacaram-se o farmacêutico Clarimundo Agapito Paes e o Coronel Joaquim da Silva Guimarães. O segundo presidente do Conselho foi José Cândido de Moraes Castro, cuja família deu significativa contribuição ao desenvolvimento da cidade.

►Emancipação

Cláudio permaneceu como parte do Município de Oliveira até 30 de agosto de 1911, quando, por força da Lei nº 556, foi emancipado, sendo criado o Município, cuja instalação se deu em 1º de junho de 1912, sob a presidência do Coronel Joaquim da Silva Guimarães e a participação dos vereadores Clarimundo Agapito Paes, Dr. Felício Brandi, Ascânio Cândido de Moraes Castro, José Gonçalves Ferreira Primo e João Batista de Assis.

A nova Câmara conseguiu avanços para a vida sócio-econômica da cidade, entre elas a Estrada de Ferro Oeste de Minas, que em 8 de junho de 1912 inaugurou sua estação na cidade, garantindo maior facilidade ao escoamento da produção de café e uma interligação mais rápida com outros centros. Paralelamente, ocorreu a evolução da estrutura judiciária de Cláudio. Em 10 de setembro de 1925 foi criado o Termo de Cláudio. Ele era subordinado à Comarca de Oliveira e foi solenemente instalado em 20 de março de 1927.

A partir de 1930, Cláudio tomou novo impulso. A Prefeitura funcionava sob a intervenção do ‘Conselho Consultivo’, na administração de Custódio Costa. O Judiciário ganhava autonomia, com a criação da Comarca de Cláudio, em 14 de julho de 1947, e sua efetiva instalação, em 15 de setembro de 1948, tendo à frente Hélio Armond Werneck Cortes.

►Tribuna de Cláudio.

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