Como delator, Messer admite ser sócio em esquema que moveu 1,6 bilhão de dólares em 52 países
Doleiro prestou depoimento nesta quarta-feira (12). Foi a primeira vez que ele falou à Justiça na condição de delator.
Por Lilian Ribeiro e Marcelo Gomes, GloboNews
Dario Messer admitiu pela 1ª vez, em interrogatório nesta quarta-feira (12), que era o sócio investidor da mesa do câmbio operada no Uruguai pelos também doleiros Claudio Barboza, o “Tony”, e Vinicius Claret, o “Juca Bala”.
Segundo as investigações da Lava Jato no Rio de Janeiro, o esquema – chefiado por Messer – movimentou 1,6 bilhão de dólares em operações ilegais de câmbio em 52 países.
Juca e Tony chegaram a ser presos pela Lava Jato e foram acusados de lavar milhões de dólares de propina do esquema de corrupção chefiado pelo ex-governador do Rio Sérgio Cabral.
Messer teve o acordo de delação premiada homologado também nesta quarta pelos juízes Alexandre Libonati, da 2ª Vara Federal Criminal do Rio, e Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal.
O doleiro foi interrogado novamente hoje, no processo decorrente da Operação “Marakata” – um desdobramento da Lava Jato que corre na 2ª Vara Federal Criminal. A operação foi realizada em 4 de setembro de 2018, e prendeu 5 pessoas de forma preventiva.
Segundo as investigações, a empresa Comércio de Pedras O. S. Ledo usou os “serviços” de Messer para enviar 44 milhões de dólares ao exterior, entre 2011 e 2017.
O Ministério Público Federal (MPF) apontou que os doleiros Juca Bala e Tony, que trabalhavam para Messer, abriram contas no Panamá para receber pagamentos da empresa, que vendia esmeraldas e pedras preciosas para empresários indianos.
As pedras eram extraídas de minas de Campo Formoso, na Bahia.
Para os investigadores, os dólares ocultos no exterior eram trazidos para Brasil, mas não eram declarados. O MPF ainda diz que o dinheiro era utilizado para pagar garimpeiros e atravessadores com os quais a empresa negociava as pedras.
Pela primeira vez, Messer confessou hoje que realmente foi o “dono” da mesa de câmbio operada por Juca Bala e Tony no Uruguai.
“Entre 2003 e 2017 eu fui o sócio investidor na mesa de câmbio do Uruguai, onde trabalhavam o Juca e o Tony. Eu tinha participação nos lucros e ocasionalmente sabia quais clientes continuavam operando com a mesa, entre eles a Dayse e o Marcello”, disse Messer.
De acordo com o MPF, Dayse Balassa Tsezanas e Marcello Luiz Santos de Araújo são os sócios da empresa Comércio de Pedras O. S. Ledo. Segundo Dario, a dupla operava com a mesa de câmbio ilegal desde a década de 1980, quando o negócio ainda era gerido pelo pai de Dario, Mordko Messer.
Perguntado por que a empresa de comércio de pedras preciosas recorria ao mercado paralelo de câmbio, Messer explicou que a O.S. Ledo vendia as pedras para indianos e recebia em dólar no exterior. Mas precisava de reais no Brasil para pagar os garimpeiros [que extraíam as pedras no interior da Bahia].
Em seu primeiro interrogatório neste processo, em março deste ano, antes de ter virado delator, Dario Messer negou que fosse sócio de Juca Bala e Tony na mesa de câmbio ilegal.
Depois de ficar mais de um ano foragido da Lava Jato, Dario Messer acabou preso em julho do ano passado, no apartamento da namorada, Myra Athayde, em São Paulo.
Myra também foi presa em novembro, junto com parentes dela. Todos foram acusados de terem ajudado Messer a ocultar dinheiro e a fugir das autoridades.
Messer está em prisão domiciliar desde abril deste ano por decisão do Superior Tribunal de Justiça, por causa da pandemia do coronavírus. O STJ considerou que o doleiro se encaixa no grupo de risco para a Covid-19. Ele tem 61 anos, é hipertenso e fumante.
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