sexta-feira, 12 de março de 2021

Os entretenimentos em Carmo da Mata em Décadas passadas


—►Com relação aos entretenimentos, quase nada existia no arraial de Carmo da Mata que pudesse ser considerado permanente, a não ser o cinema aos domingos e feriados ou dias santificados. Mas havia  o futebol que, vez por outra, proporcionava algo diferente, como partidas contra times de Oliveira, Cláudio ou Itapecerica, atraindo um público razoável. Entre nossos craques podíamos destacar o saudoso Senhor Levy Zeringota, Senhor Quinzinho Notini, Senhor Severo Rios, Senhor Dilermando d’Assunção, Senhor Pedro Dorcino, ‘Galo’, ‘Coro’, Senhor Joãozinho Vitorino e outros. 

O campo era sem muros e sem gramados, mas satisfazia espectadores e jogadores, sem alternativa. Circo de touradas, só muito raramente. Teatro, mais raro ainda. Houve algumas “troupes” que nos visitaram. Recordamos de Margarida Sper, como grande artista, muito simpática, que conquistou o público com sua espontaneidade e naturalidade, inclusive envolvendo alguns espectadores em suas piadas irreverentes e inocentes. 

Houve também a “Troupe” da atriz ‘Lina, Petit Joãozinho’ e atriz Julieta. Mas o que realmente marcou época aqui foi o teatro, composto de crianças de nosso Grupo Escolar Silviano Brandão. 
Em 1931 aqui aportou o teatrólogo Antônio Pedro Meão, que se propôs a oferecer 2 peças ao público carmense. Para isso procurou a professora Mariazinha da Conceição Silveira, para lhe arranjar os atores mirins. Houve dificuldades na seleção dos tipos adequados, razão pela qual, sem alternativas, Pedro Meão se viu obrigado a dar papéis masculinos a algumas meninas, como Dona Ivone Teixeira, Senhora Mercedes Vale (Dona Zinha do Senhor Romeu Corrêa) e Olímpia Lúcia Resende. 

Todos instruídos e ensaiados, e tudo pronto, foram distribuídos os volantes e o espetáculo aconteceu. Eram duas peças intituladas “Bonequinha soberana” e “Silêncio!”. O ambiente da primeira era um palácio real, e o da segunda, uma sala de aula. Dona Haroldina Rios, esposa do saudoso Senhor ‘Bibi’ Notini,  dotada de invulgar beleza, cantora de voz inigualável, foi escolhida para fazer ‘Nivalda, a princesa’. Ivone Teixeira fez o príncipe apaixonado por Nivalda. Roberto Dias, cômico nato, proporcionou o alívio humorístico como ‘Cambraia’, o lacaio da princesa. 

Destaque também para a Santinha Duarte, filha do comerciante Niquinho Duarte, no papel de Nini, a fada protetora dos namorados. Na peça “Silêncio!”, Zelafa Mattar fez a professora ‘Antiqueta’, sempre vítima da burrice e da indisciplina dos alunos. Olímpia Lúcia Resende fez o Inspetor Escolar ‘Chico’. 

João Batista Menezes, filho de Arsênio, Agente da Estação Ferroviária, à época, no papel do pomposo ‘Comendador Ventura’. Dona Zinha Vale fez o estudante ‘João Tapado’, e Armando Sábato fez o estudante Zezinho. Zinha e Armando não tiveram destaque na peça, a não ser em uma cena, em que após desentendimento, foram  trocadas unhadas e tapas. 

Merece destaque também a presença da pequena Elza de Oliveira, filha do  conhecido Sebastião ‘Nhaca’. Elzinha, linda, vivaz e irreverente... Solicitada a saudar o ilustre senhor Inspetor, Elzinha deixou cair: “Oh, seu Chico, diz um passarinho, o senhor é popular porque é feiozinho!...” Elza faleceu em Belo Horizonte, em 1950, deixando dois filhos pequenos que mais tarde foram meus alunos na Academia de Polícia, e hoje são os coronéis Elmo e Joel. Devo esclarecer que o espetáculo era abrilhantado por peças musicais de composição do próprio Prof. Meão, executadas pelo conjunto do nosso competente Lalau, e, no palco, por nossas cantoras Dalca Rodrigues Afonso, Celuta de Oliveira e Miriam Celeste. 
Ainda no campo teatral, deve ser lembrada a U.T.B., União Teatral Benemérita, organizada por um grupo de artistas amadores idealistas, constante de José Alves Pereira Sobrinho (Zé do Tito), Fuad Simão, Tonico Assis, Oswaldo Gonzaga de Mello, Michel Simão e o garoto Aldo Sábato. De modestas pretensões, motivada por puro idealismo, a U.T.B. deixou marca indelével no cenário artístico do arraial. Este conjunto de jovens artistas amadores lançou com sucesso as peças “Deus e Alah” e “Funerais e Danças”. Com brilhante desempenho, receberam os aplausos e a consagração do público. Parques de diversões também costumavam quebrar nossa rotina. Alem de barraquinhas de jogos, nos davam números de música popular e humorismo em espetáculos ao ar livre. 
 
Não podemos deixar de parte os circos que chegavam ao arraial, alterando substancialmente a vida do lugar. Possuíamos bons artistas, malabaristas, trapezistas, equilibristas e engraçadíssimos palhaços, entre os quais podemos destacar Rebolabola, Cebola, Fabrício, Moranguinho, Careca, Coça-Coça e outros. 

Havia a primeira parte, seguida do intervalo, cujo início era mimoseado pela presença do palhaço. O senhor diretor oferecia a todos um cafezinho, mas que o fosse tomar em suas próprias casas. Em seguida era apresentada a assim chamada “pantomima”. Era sempre um dramalhão lacrimogêneo, porém com o “engraçado” a cargo do alivio cômico. Eram apresentadas as peças “Serra Morena”, “Honrarás Tua Mãe”, “Os Milagres de São Benedito” e outras. Era impressionante o desempenho dos artistas. Tanto quanto posso me lembrar, aqui aportaram os circos “Éden Circus”, “Circo Alciatti”, “Circo Vitória”, “Imperial Japonês”, “Irmãos Mello” e o circo dos irmãos Antônio Pantojo, Roberto Pantojo e Adalberto Pery Pantojo. 

Em 1926 chegou à Forquilha um modesto circo mantido por uma família constante do casal e de dois filhos. Circo pobre, sem cobertura, iluminado por lampiões, seus artistas conseguiram agradar àquela humilde gente roceira que acorria aos espetáculos, inclusive para se divertir com graças do palhaço Cotó. Resta-me agora comentar sobre nosso indefectível cinema, que, inaugurado em 1910, proporcionou sadio entretenimento às gerações de carmenses que se deliciavam com filmes de “westerns”, seriados e comédias e também alguns filmes sacros. O valoroso Bibi, seu último proprietário, lutou bravamente para mantê-lo, inclusive acumulando as funções de programador, bilheteiro, porteiro, locutor de anúncio e operador, porém tudo isto recentemente, quando o cinema já agonizava, sufocado pela televisão. Carmo da Mata então já não era mais arraial, mas nosso cinema teve sempre forte vínculo com o passado, praticamente sem solução de continuidade.

►Tribuna do Carmo e dados extraídos de texto base de Armando Sábato – Revista Memória Carmense e foto ilustrativa da capa do livro de Lineu de Carvalho, “Carmo da Mata – sua terra, sua gente”.

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