Em 1918, quando Cláudio ainda era uma pequena vila, o farmacêutico Clarimundo Agapito Pais estava empenhado em uma dura batalha. O motivo da luta não era familiar, político, comercial ou religioso.
Clarimundo combatia a Gripe Espanhola, epidemia que assolou várias partes do mundo e levou à morte entre 20 e 40 milhões de pessoas. Com consequências muito drásticas,a Espanhola chegou a superar a Primeira Guerra Mundial em número de mortos, entrando para a história como um dos momentos mais difíceis do século XX.
No Brasil, calcula-se que cerca de 300 mil pessoas tenham morrido por causa da doença, entre elas o presidente da República, Rodrigues Alves. Combater a epidemia exigiu coragem e determinação. Clarimundo não só demonstrou essas qualidades, como ainda provou ser capaz de se sacrificar em prol do próximo.
Segundo Antônio Martins Amorim, que em 1970 escreveu um artigo por ocasião do centenário de nascimento do farmacêutico, ele raramente ficou em casa naqueles dias.
Numa época em que a região era carente de profissionais de saúde, Clarimundo era chamado constantemente para atender a chamados vindos de fora da vila de Cláudio. Dormir mal acomodado, muitas vezes entre os próprios doentes, tornou-se parte de sua rotina. Para dar conta de tantas viagens, o farmacêutico chegou a manter três animais de montaria, que usava em revezamento: um no arreio, outro no pasto e um terceiro na cocheira.
Em outra ocasião, quando uma epidemia de varíola atingiu Cláudio, Clarimundo voltou a atuar diretamente e conseguiu salvar muitas vidas. Como fez por ocasião da Gripe Espanhola, o farmacêutico não teve medo de se expor ao convívio dos doentes infectados.
Apesar do contágio rápido e fácil, que se tornava ainda maior pela falta de recursos, Clarimundo e seus familiares conseguiram passar pelas duas doenças sem qualquer problema.
O trabalho do farmacêutico, nessas e em outras ocasiões, era muito maior que o dos profissionais de hoje, pois a maioria dos medicamentos não vinha pronta dos laboratórios e precisava ser manipulada.
Das mãos de Clarimundo saíram pílulas, xaropes, poções, pomadas e vários outros remédios para curar os mais diferentes males. Dono de inteligência muito acima da média, o farmacêutico, formado pela antiga Escola de Farmácia de Ouro Preto, também inventou fórmulas, entre elas “pílulas antiepiléticas”, “sal veterinário”, “calicida”, entre outras.
O combate à Gripe Espanhoa e à varíola, assim como a proteção desinteressada aos doentes, representam apenas uma parte das diversas realizações de Clarimundo, considerado um dos mais destacados homens públicos da história claudiense.
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