Conselho Deliberativo Municipal do Patrimônio Histórico e
Cultural de Carmo da Mata reúne-se para deliberar sobre as cores que serão
pintadas no prédio da Escola Municipal “Silviano Brandão”
—►Em reunião na manhã de
29/07, às 9:00h, os membros do Conselho Deliberativo Municipal do Patrimônio
Histórico e Cultural de Carmo da Mata estiveram reunidos em frente ao prédio do
‘Grupo Escolar’ Silviano Brandão, que se encontra em reforma, e consequente
restauração para, juntos deliberarem sobre as cores que serão pintadas na
alvenaria desse precioso bem histórico e cultural do município.
Em análise e
concordantes, os membros conselheiros, através de seu Presidente, Ricardo
Antônio Rezende Câmara, decidiram pela formação de uma Comissão, composta por
Francelina Diniz Quintão Gomide, Vinícius Ribeiro e Antônio Leanderson de
Castro que, através de pesquisas, junto a referências bibliográficas, bem como a
consultas a arquitetos de renome regional, determinarão as cores mais adequadas
para colorirem a majestosa edificação.
Os membros do Conselho
sabem que esta será uma árdua tarefa, pois, além da preocupação precípua de
embelezamento da estrutura do prédio, há uma intenção em resgatar as cores e nuances mais adequadas para este inigualável
Bem Tombado, que há mais de cem anos faz parte da história de Carmo da Mata.
Assim sendo, um dos
membros da Comissão, Antônio Leanderson de Castro, o ‘Toinzinho’, já nos enviou
um histórico e parecer quanto ao universo das cores, bem como os seus
significados. Leia:
“As casas tão
verde e rosa, que vão passando ao nos ver passar. Os dois lados da janela, e
aquela num tom de azul quase inexistente, azul que não
há. Azul que é pura memória de algum lugar”. (Trem das cores — Caetano Veloso)
Historicamente
falando, muitos dos significados das cores não guardam o seu sentido original, mas
são enriquecidos com a evolução espiritual dos povos em cada sociedade. Assim,
o significado das cores nunca teve uma visão autônoma, que iniciasse e
terminasse o seu ciclo de ação no próprio âmbito das ideias. Se considerarmos a
cor como uma forma de linguagem capaz de comunicar e transmitir informação, sua
aplicação é responsável pelo significado que pretende atribuir. A própria cor pode incorporar significados
diferentes às informações que pretende passar, destacando sua função como
comunicadora social responsável pelas intenções embutidas em diretrizes de
comunicação. Cientificamente, estudos demonstram que todas as pessoas possuem
uma escala de cores própria e que nelas é possível expressar seu humor, seu
temperamento, sua imaginação e seus sentimentos. Talvez de todas as cores mais
conhecidas, o rosa, seja a mais emblemática, isto se deve porque ao longo dos
tempos, as cores estão ligadas a uma variedade de significados de acordo com o
desenvolvimento social e cultural das sociedades que os criam. Pois, a mesma
pode incorporar valores, regras e códigos constituídos por sistemas ou por
campos semânticos de origens diversas (religiosa, política, técnica, etc.).
A definição
do rosa seria uma cor vermelha pálida usada pela primeira vez como um nome de
cor no final do século XVII. De acordo com pesquisas na Europa e nos Estados
Unidos, o rosa era a cor mais frequentemente associada ao charme, polidez,
sensibilidade, ternura, doçura, infância, feminilidade e ao romantismo. Além de
outras associações, como à castidade e à inocência quando combinada com o
branco, mas associada ao erotismo e à sedução quando combinada com o roxo ou o
preto. Já na Inglaterra no século XIX, fitas cor-de-rosa ou enfeites eram frequentemente
usados por meninos. Os meninos eram simplesmente considerados
homens pequenos e, enquanto os homens na Inglaterra usavam uniformes vermelhos,
os meninos usavam rosa. Na verdade, as roupas para crianças eram quase sempre
brancas, pois, antes da invenção de corantes químicos, roupas de qualquer cor
desbotavam rapidamente quando lavadas em água fervente. A transição para o rosa
como uma cor diferenciadora para as meninas ocorreu gradualmente, através do
processo seletivo do mercado, nas décadas de 1930 e 40. Na década de 1920,
alguns grupos ainda descreviam o rosa como uma cor masculina, o equivalente ao
vermelho que era considerado para homens, mas mais leve para meninos. Mas as
lojas, no entanto, descobriram que as pessoas optavam cada vez mais por comprar
rosa para as meninas e azul para os meninos, até que isso se tornou uma norma
aceita na década de 1940.
Em se
tratando da infinita gama de cores que conhecemos hoje, a cor preta e a cor
branca, no entanto, têm um diferencial. O branco, por exemplo, é a junção de
todas as cores, mas quando não absorve nenhuma delas, seria o reflexo de todas.
É, portanto, a ausência da cor. Mas, normalmente nos referimos ao branco com
algo liso e brilhante “branquinho”, os latinos usaram essa referência para
usar blank, palavra germânica para polido, para referir-se à cor
branca. O preto, por sua vez, refere-se à junção também de todas as cores, mas
todas absorvidas ao invés de refletidas, do latim Appectoráre, significa
“comprimir contra o peito”. Com o tempo, essa palavra começou a se tornar
“apretar”, que por analogia, gerou o preto, que se refere a algo denso, espesso
e “apertado”. O amarelo tem uma história bastante interessante, no passado,
acreditava-se que a doença conhecida como icterícia, que deixa as crianças
amareladas, vinha da bílis, produzida pelo fígado. Essa secreção era chamada de
“humor amargo”. Amargo em latim é amargus, que quando no
diminutivo, se transforma em amarellus, de onde surgiu o nome da
cor. Algumas cores como o laranja, vem do momento em que os árabes, que vieram
da Europa trazendo a fruta laranja, resolveram nomear a cor com o nome da
fruta. Já o marrom vem da castanha portuguesa, que em francês, chama-se “marron”,
e da cor do fruto adotou-se como nome da cor. O azul vem de lápis-lazúli,
a pedra preciosa. Lazúli vem do árabe lázúrd que refere-se à
coloração azulada da pedra. O cinza, por sua vez, nasceu da massa de pó misturada
com as brasas após a queima das fogueiras. No caso do vermelho,
antigamente, a tinta era feita através de um inseto, que quando esmagado virava
um vermelhão, assim, o vermelho como nome da cor deriva de vermiculum,
que do latim, significa “vermezinho”. O nome verde já nasceu para a cor, mas o
verbo vivere, do latim, significava verde, verdejar, e dele surgiu
à associação do verde com o que ainda está nascendo, no caso as plantas.
Portanto, as
cores inevitavelmente fazem parte de nossas percepções, lembranças, referências
de tempo e lugar. Como nos casarões da Avenida Dom Alexandre Amaral, antiga ‘Avenida
Boa Vista’, que espelham com suas cores a história e o progresso de Carma da
Mata, e ainda dá lugar ao imponente prédio do Grupo Escolar Silviano Brandão.
Um dos bens tombados no município, o Grupo Escolar, que teve o início de sua Fundação
em 1917, com a Lei Estadual 4.780 de 17 de maio de 1917, que validou sua
instalação. Mas, sua história começou bem antes, bem no “Tempo de Carmo da Mata
Antigo”, quando Carmo da Mata recebeu a visita de Lafayete Brandão, oficial de
gabinete do presidente do Estado de Minas Gerais, Delfim Moreira. Na época, Lafayete
passou uma temporada hospedado com sua família na residência de Alexandre
Afonso Rodrigues, o Xandico. Satisfeito com a generosidade e hospitalidade que
havia recebido de seu anfitrião, do povo e das autoridades carmenses, Lafayete,
decidiu retribuir endossando junto ao Estado, um pedido de Joaquim Afonso
Rodrigues, o Quinca Afonso. O pedido tratava-se da solicitação ao Governo do
Estado para a construção de uma escola oficial de maior porte que atendesse
toda a população carmense. A edificação recebeu o nome do ex-Presidente do
Estado de Minas Gerais Silviano Brandão, pai de Lafayete. Mas, a solenidade de
inauguração da Escola foi feita no dia 28 de Janeiro de 1922, quase cinco anos
depois do início de sua construção. A cerimônia contou com a participação de
dezenas de autoridades do município, da região e do Estado, onde foi divulgada
a lista dos primeiros alunos, que chegou a 452 matriculados. O então Grupo Escolar
Silviano Brandão pertenceu à Rede Pública Estadual de Ensino até meados da
década de 1990, quando foi municipalizado, passando a ser gerido pela
Prefeitura Municipal de Carmo da Mata.
Nesse pequeno trecho da história da Escola
Silviano Brandão, não é possível expressar numerosos relatos e curiosidades em
todos esses anos de existência. Pois, foram muitos os acolhidos pela escola,
centenas e centenas de alunos, professores que com tanto amor nos ensinaram as
primeiras letras. Mas, eu, como ex-aluno, não poderia de deixar meu testemunho,
de tal qual, foram boas minhas lembranças, a meninada na rua esperando o portão
lateral abrir: brigas, gritaria, correria, um gritava: “o portão abriu”, o
outro respondia: “sua calça caiu e todo mundo viu”, doces lembranças, belos
dias. E por falar em doces, quem não se lembra de uma figura, que com certeza habita
sempre nossas lembranças de infância, o querido Nodge. Com toda paciência
atendia a todos nós em seu comércio, e eram muitos doces, balas, pirulitos,
suspiros coloridos, marias-moles, e o baleiro em cima do balcão, lembro até
hoje do barulho que ele fazia quando girava, e nossos olhos brilhavam entre
tantas guloseimas. O sinal tocava, todos corriam para fila, meninas primeiro,
os meninos depois, ordem de tamanho, distância de um braço..... Dona Amine
sempre austera, mas tinha um sorrido lindo, Tia Nini, Tia Nenem, Tia Vânia, Tia
Silvinha, Tia Tita, Tia Dodora, Dona Rosária minha professora da 4ª Série,
quanta saudade... Na cantina, o cheiro da merenda, depois recreio, correria de
novo, hora de brincar, bola,pique, alguns tombos, joelhos ralados, algumas
desavenças que eram resolvidas na saída no gramado em frente à fachada da Escola.
Uma fachada tão grande e imponente, na cor rosa com afrescos brancos e creme,
cores das minhas lembranças...”
Como Referências Bibliográficas, Antônio Leanderson usou:
FRASER, Tom; BANKS, Adam. O guia completo da cor. São Paulo:
ed. SENAC, 2007; PASTOUREAU, Michel. Dicionário das cores do nosso tempo:
simbólica e sociedade. Lisboa: Estampa, 1997 e a Consulta Histórica da Publicação
Comemorativa dos 100 anos de Fundação da Escola Municipal Silviano Brandão –
Carmo da Mata – Maio de 2017 do Acervo do Jornal Tribuna do Carmo e da Revista
Memória Carmense.
►E você, qual a cor da sua história com o “Silviano Brandão”?
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