quinta-feira, 22 de abril de 2021

Passinho guarda uma pequena grande obra de arte em Carmo da Mata.



Carmo da Mata guarda uma pequena grande obra de arte na Avenida Dom Alexandre Amaral. 
Trata-se do Passinho mantido pela família do Cirurgião Dentista, escritor e historiador, Dr. Lineu de Carvalho, que faleceu no final do mês de fevereiro de 2019.
Ocupando parte do terreno da casa da família, que foi construída na última Década do Século XIX e constitui uma atração à parte, o Passinho foi erguido na Década de 1910 pelo avô materno do escritor, José Antônio Ferreira, que por várias vezes foi Presidente do antigo Conselho Distrital de Carmo da Mata e, posteriormente, representante do Distrito na Câmara Municipal de Oliveira, à qual pertencia o Território Carmense.

Homem público de atuação destacada na sociedade local, onde conviveu com lideranças como Joaquim Afonso Rodrigues, o Quinca Afonso, e Olinto Ferreira Dinz, Juca Ferreira, como era conhecido popularmente, nasceu em Itapecerica no dia 18 de junho de 1865 e mudou-se ainda jovem para Carmo da Mata, acompanhando os pais. 

Em 4 de setembro de 1892 ele se casou com Brunildes Notini, que nascera em Cláudio e se mudara com a família para Carmo da Mata. O casal teve quatro filhos. Dois deles, Olavo e José, faleceram ainda crianças. Os outros dois eram João Notini Ferreira e Josefina Notini de Carvalho, mãe de Lineu de Carvalho. Juca Ferreira morreu em 27 de agosto de 1939.
Ligado à Igreja Católica, Juca Ferreira era o festeiro da 6ª feira da Semana Santa em Carmo da Mata. “Nestas ocasiões, cumprindo uma tradição, ele distribuía cartuchos de amêndoas às autoridades e pessoas que participavam da procissão”, conta Lineu, que resgatou a história do antepassado no livro “Família Notini”, publicado em 2001. 

O Passinho surgiu, segundo o escritor, como uma das demonstrações da fé de seu avô, que morava com a família na casa da Avenida Dom Alexandre Amaral. Juca Ferreira também foi um dos integrantes da comissão incumbida de levar adiante a construção do Santuário do Carmo, principal edificação religiosa carmense, cuja pedra fundamental foi lançada em 30 de setembro de 1906.

Riqueza

Construção quadrada que acompanha o padrão de cores da casa da família, em verde e branco, o Passinho tem dupla riqueza. 
De um lado, como última construção remanescente do gênero em Carmo da Mata, ele responde pela manutenção das tradições sacras católicas no município. “Todo ano, por ocasião da Semana Santa, o passinho é aberto e recebe a visita da Verônica, na Sexta-Feira da Paixão”, explicou Lineu na época em que foi entrevistado pela reportagem da Tribuna. 
Mas não se esgota no aspecto religioso a importância da construção. Graças ao apurado senso artístico de Dr. Lineu, o Centenário Passinho tornou-se na década de 1970 uma das poucas construções da região a ser ornamentada por Petrônio Bax, considerado um dos mais importantes Pintores Modernistas do Brasil.

Colega de infância de Bax, Dr.  Lineu foi visitado por ele em 1973. Na ocasião, como forma de homenagear o amigo, o pintor, já então considerado uma celebridade nas artes plásticas, ofereceu-se para decorar o passinho com um mural. O trabalho foi executado num único dia, em 29 de maio de 1973. 
Construído no rico Estilo de Bax, que tem peixes e elementos marinhos como seus principais motivos, o mural ocupa três paredes. Nas laterais, o pintor pintou a Natividade e São Francisco de Assis. A parede central contém uma imagem de Nossa Senhora do Carmo, Padroeira do Município, colocada dentro da silhueta de um peixe. O estilo da composição, que retoma o de grandes trabalhos de Bax, apela ao imaginário para transmitir uma mensagem de lírico fervor religioso. 

Tribuna do Carmo.

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