quarta-feira, 27 de março de 2013

Secretário de Saúde ataca jornal e confessa que mentiu à reportagem


POLÊMICA
Secretário de Saúde ataca jornal e confessa que mentiu à reportagem


Após matéria divulgada pela Tribuna, tratando de um caso em que se destacou a estranheza do desenrolar da história, envolvendo o secretário de Saúde do município e presidente da entidade assistencial Vila da Melhor Idade, e o atendimento médico a uma senhora interna daquela entidade, o secretário foi a outro órgão de imprensa e contestou a nossa matéria. Direito dele, não negamos. Porém, para explicar o ocorrido, dando a versão que ele não quis dar à nossa reportagem, o secretário Eurides acabou por confessar - por livre e espontânea vontade - que não disse a verdade à época, quando foi procurado pela nossa reportagem.
Vejam o que disse o jornal, explicando a posição do secretário: "Ele disse ter sido procurado, via contato telefônico, por um jornalista chamado Sérgio Cunha, ao qual informou que o motivo de ter sustado o cheque teria sido a falta de saldo, para fazer com que o assunto não ganhasse mais conotação negativa e para que pudesse poupar o médico de uma situação anti-profissional, ao falar do atendimento." Em outro trecho da entrevista com o secretário, a matéria informa que "Eurides falou ainda que o motivo pelo qual o cheque da entidade foi sustado não se deu ao fato de falta de saldo (grifo nosso), mas sim pelo fato de que, segundo ele, o atendimento prestado à Dona Cleonice, e o tratamento que foi dado aos acompanhantes da senhora, pelo médico, não teriam sido satisfatórios, tendo o mesmo faltado com educação e bons tratos". E completa: "Cheque assinado por mim nunca voltou, e não volta".
Bom, voltou sim, senhor Eurides. Um cheque de R$360,00 pago ao médico Dr. Caio Marcus, pelo atendimento à Dona Cleonice, interna da entidade que o secretário dirige, e assinado por ele, voltou por ter sido sustado e, à reportagem da Tribuna - que o procurou para ouvi-lo, como deve ser feito no bom jornalismo - o secretário disse que a devolução teria sido por falta de saldo, pois a entidade havia gastado mais de R$2 mil com o pagamento do transporte da referida paciente até Divinópolis, em UTI Móvel. O senhor não disse a verdade, por duas vezes. Basta ver nas duas matérias, publicadas em dois jornais, sobre o mesmo tema, e comparar as informações repassadas aos órgãos de imprensa. O secretário informou, na entrevista concedida a outro jornal que, quem pagou o transporte com a UTI Móvel foi a Secretaria de Saúde (o Município). Deve ser só o conserto de outra pequena mentirinha...

Onde está a perseguição?
Para justificar, talvez, o fato de haver mentido, por duas vezes - quando disse ao jornal que mandou sustar o cheque porque não havia saldo suficiente e, depois, ao afirmar que cheque assinado por ele, "não volta" - o secretário aponta uma possível perseguição do jornal contra ele. Busca fazer-se de vítima, mas a questão real não é esta. O que precisa mesmo, ser esclarecido, senhor secretário, são coisas simples como estas:
1 - Por que a entidade teve que pagar apenas o atendimento realizado pelo médico Dr. Caio Marcus, sendo que os demais atendimentos foram realizados via SUS?
2 - O Município, que inclusive recebe recursos do SUS, não tem como prestar atendimento médico de emergência aos cidadãos?
3 - Se uma pessoa, com suspeita de infarto, for atendida em Carmo da Mata e tiver solicitada a sua remoção para Oliveira, será necessário que parentes e/ou responsáveis por ela paguem uma consulta para que ela seja atendida e encaminhada para tratamento no PS de Divinópolis? Esse atendimento não é garantido pelo SUS, através do Município?
4 - Pelo fato de uma pessoa não gostar do atendimento do balconista de uma loja, mas mesmo assim, levar a mercadoria adquirida, ela pode sustar o cheque por que foi mal atendida?
5 - Um jornal, sabendo da ocorrência de um fato relevante, que envolve atendimento médico e, por conseguinte, vida humana, não pode fazer a matéria e buscar as informações necessárias para esclarecimento ao público?
6 - Ao ser ouvido - princípio básico do jornalismo: ouvir as partes envolvidas - o entrevistado mente ao repórter e, depois se diz injustiçado, confessa a mentira... é normal?
7 - Não seria obrigação do secretário de Saúde denunciar um médico que atende mal os pacientes?
8 - O cargo de secretário é de dedicação exclusiva, isto é, enquanto no cargo, ele é secretário todo o tempo. Assim, quando se trata de um problema na área em que ele atua, não é estranho que, em um momento ele seja secretário e, no outro, dirigente de entidade? Aí está a estranheza do fato: em que momento o secretário de Saúde de Carmo da Mata atuou como secretário de Saúde, e em que outro momento atuou como presidente da Vila da Melhor Idade? Essa duplicidade de funções, em um mesmo momento não é estranha?

Concluindo, senhor secretário, sempre que desejar informar os motivos de suas ações, pode nos procurar que nossa função é informar os nossos leitores. Estaremos sempre à disposição. Lembramos também que, sempre que estivermos produzindo matérias, vamos tentar ouvir as partes envolvidas, como fizemos no caso em tela. Só pedimos que as pessoas não mintam, quando procuradas, para que as informações não sejam distorcidas por essas mentiras.

Com reportagem de Sérgio Cunha

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