Foi descrita pela primeira vez em 1906 pelo
psiquiatra alemão Alois Alzheimer. Cada paciente de Alzheimer sofre a doença de
forma única, mas existem pontos em comum, como por exemplo, o sintoma primário
que é a perda de memória de curto prazo (dificuldades para lembrar-se de fatos apreendidos recentemente).
O paciente perde a capacidade de dar
atenção a algo, perde a flexibilidade do pensamento. É observada também a
apatia, confusão mental, desorientação de tempo e espaço. A pessoa não sabe que
ano, mês, ou dia em que está.
Com o passar do tempo,
os neurônios vão morrendo e a quantidade de neurotransmissores diminui. Aumenta
a dificuldade em reconhecer e identificar objetos, como também a execução de
movimentos. A degeneração progressiva dificulta a independência. A sua massa
muscular e a mobilidade degeneram-se a
tal ponto que o paciente tem que ficar
deitado numa cama.
Por esse pequeno histórico,
peço carinhosamente, licença para publicar aqui, uma adaptação sobre como me
sinto em relação à minha mãe... Dona Zulmira, lá do Quilombo!
MINHA
MÃE TEM ALZHEIMER...
Como assim? O que é isso?
Essa foi a minha primeira reação quando
soube que minha mãe “estava com o Mal de
Alzheimer” puro preconceito, esse de chamar “mal”.
Pra começar não é O MAL, mas sim DOENÇA de
Alzheimer.
De imediato há a recusa em acreditar. É por
demais brutal aceitar que isto esteja acontecendo com sua mãe.
Somos sete filhas! Cada uma teve seu jeito
e tempo para digerir a uma notícia dessas!
A princípio todas nós concordamos que
deveria pesquisar mais, ver outros médicos, outras opiniões e ... tratamento. As respostas foram uma
só. Tudo são hipóteses, mas os exames
indicam que sim. Nunca, tinha ouvido algo
tão assustador. Porque até aí, cada uma por sua conta já havia pesquisado lido, ouvido depoimentos.
Lembro que o primeiro que eu ouvi, foi de
uma secretária da escola onde trabalho. Quando contei sobre minha mãe, ela me
chamou, e, a sós, me disse: “Fale baixo,
,desconversa se chegar alguém. Meu pai
está com este mal. O médico explicou que, para compreender melhor, pense em uma mexerica
pocam. Agora, deixe-a, sobre a mesa e, no dia seguinte , esta mexerica estaria
bonita como quando a pegou no pé mas ao abri-la verá que seus gomos murcharam.
Assim está o cérebro de sua mãe. Murchando.
Não comente nada. Nem sobre sua mãe e meu pai.”
Fiquei
chocada, paralisada... como? Por quê? Não é contagioso. Mesmo se fosse.
Descobri amargamente que havia preconceito.
Aquele preconceito do desconhecido, do novo... Descobri o quanto alguns seres
humanos podem ser cruéis, impiedosos...
Como já disse , somos sete mulheres. Cada
uma reagiu de um jeito. Houve discussões, divergências.
Meu pai SENHOR SEBASTIÃO DO IZALTINO, como
era conhecido, ainda estava vivo. Contar como ele reagiu daria várias
páginas...Ele quis ouvir do médico, Dr. Lafaiete, pois só confiava nele, o que
estava por vir. O médico muito sabiamente, explicou com habilidade, como seria
dali pra frente. Ele não se iludiu. Passou a cuidar de minha mãe com todo
carinho, gentileza e paciência jamais vistos. Morreu onzes meses depois.
Pra todas nós foi muito doloroso! Assim, em
pouco tempo, ficamos sabendo que nossa mãe iria morrer todos os dias de forma
lenta e gradual, esquecendo-se de quem era , e, de quem éramos nós...
Nosso pai se foi...Não aguentou ficar assistindo
, impotente, a “fuga” daquela que foi
por mais de cinquenta anos, sua companheira, seu amor, mãe de suas
filhas...
É com estranheza que digo isso. Foi de
certa forma muito terno. Isso pra mim se chama AMOR. Ele soube que não poderia acompanha-la... preferiu ir sozinho
do que vê-la, partir a cada dia.
Peço licença aos leitores para publicar
aqui, um poema, que fiz algumas adaptações, pois não sou poetiza, longe disso,
mas na tentativa de me sentir mais leve, escrevo para ELA, DONA ZULMIRA, lá do quilombo.
Minha mãe tem
Alzheimer.
MÃE,
Você foi se distanciando...
Assim, sorrateiramente...
Poupando-nos a dor de te perder
De repente...
Assim também delicadamente,
Você quis que os laços
Fossem se desprendendo
Aos poucos...
Devagarinho...
Frouxos...
Desfazendo as
imperceptíveis amarras,
Que antes tão fortes
Se uniam a nós.
MÃE
Sua sabedoria tão simples e enorme,
Seus gestos tão
desprendidos,
Sua teimosa doação,
Seu jeito despretensioso,
Seu insistente perdão,
Que às vezes não entendia,
Ficaram todos trancados,
Atrás de sua aparente
tranquilidade,
E, a chave, MÃE,
Você esqueceu-se de nos
contar
Onde escondia...
Não sei se é maior... MÃE
em você
A sua ausência,
Ou em nós esse medo
De te perder...
MÃE,
A palavra não encontra mais
Ressonância em seus
ouvidos
Te chamar, MÃE
Ressoa agora
No vazio.
E, na saudade.
Me aconchego
Em seu colo ausente
Que só na memória
Consigo mantê-la viva
(A doença não é só mental, mas um todo que leva minha mãe todos os dias
).
MÃE,
“Aquilo que a
memória ama, fica eterno” (Adélia Prado).
Sua
filha,
Joaquina
Rodrigues de Castro (Quininha)
...
Caro leitor, quis dividir com você um pouquinho de uma história minha e de
minha família , mas, como sou
coordenadora Pedagógica, há mais de vinte anos ,não poderia deixar de
apresentar pelo menos uma sugestão de leitura infantil para levar às crianças
informações sobre o Alzheimer. - Minha avó tem Alzheimer. Magda H. Mueler. - Levar informações às crianças é nosso dever
pois é um assunto que está aí e, não podemos camuflar a verdade e deixar à margem
informações que fazem parte de nossa realidade.
Sobre
Alzheimer, apresento também outro lado, inteiramente positivo, das
transformações cerebrais trazidas pelo tempo. “Conforme envelhecemos o cérebro
se reorganiza e passa a agir e pensar de maneira diferente. Essa reestruturação
nos torna mais inteligentes, calmos e felizes”. – O melhor cérebro da sua vida – Segredos e talentos da maturidade.
Bárbara Strauch.
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