domingo, 11 de julho de 2021

A Ermida, Capela, Matriz e Santuário de Nossa Senhora do Carmo.

A Ermida, Capela, Matriz e Santuário de Nossa Senhora do Carmo

Desde que as minas de ouro começaram a dar sinais de esgotamento, os portugueses que haviam se estabelecido nas regiões de Mariana, Ouro Preto, São João Del Rei, Sabará ou São José Del Rei (Tiradentes), trataram de conseguir terrenos em lugares propícios à agricultura, como meio de vida para suas famílias. Requereram e obtiveram, então, sesmarias que, na região de Oliveira, começaram a ser concedidas pelo governo da Capitania, a partir da segunda metade do séc. XVIII. As de Ignácio Affonso Bragança, Antônio Pinto de Souza, André Ribeiro da Silva e Manoel Martins Arruda foram concedidas em 1733. Porém, os quilombolas, nome dado aos negros refugiados da zona de mineração, dominavam o oeste de Minas Gerais, não permitindo a entrada daqueles sesmeiros, o que levou o governo da Capitania a tomar enérgica atitude. Em 1769 foi enviada uma expedição comandada pelo Mestre de Campo Inácio Correia Pamplona, que estabeleceu uma de suas companhias em Oliveira, sob a chefia do Cap. João Antônio Friaça, que descarregou sobre os quilombos um violento ataque, dizimando-os completamente. Puderam assim os colonizadores dar início ao desbravamento da inóspita região coberta de matas localizadas nas margens do rio Boa Vista e seus afluentes (História de Oliveira, de Gonzaga da Fonseca).

Com o correr do tempo, esses sesmeiros dispuseram parte de suas terras para outros imigrantes, seus compatriotas. Formado um núcleo de fazendas mais significativo, trataram logo de construir uma capela, para cumprimento de seus deveres religiosos, e foi aí que surgiu a Ermida da Senhora do Carmo, nome escolhido talvez pela razão de que a Sesmaria foi demarcada a 16 de julho de 1755, dia consagrado à Virgem do Carmo. A maioria dos imigrantes portugueses trouxe de sua pátria essa devoção, e, em seus testamentos, vários deles pediram para serem sepultados com o corpo envolto no hábito de Nossa Senhora do Carmo, como Francisco Cotta Pacheco (em 1786), João Bernardes Pacheco (1907), Cap. Inácio Ribeiro da Silva (1815), Ana Francisca de Morais (1821), Padre Francisco Antônio de Morais (1821), José Rodrigues dos Santos (1824), José Ferreira de Aguiar (1824) e Antônio Ribeiro da Silva (1869).

Construída então a Ermida, bem no alto do morro que verte para o rio Boa Vista, casas dos fazendeiros foram sendo edificadas à sua volta, e a primeira notícia que se tem dela está no livro 1-A de Casamentos da Capela de Nossa Senhora do Desterro (Marilândia), filial da Matriz de São Bento do Tamanduá, livro este em que se lê o seguinte registro, na pág. 40 V: “Ermida da Mata — Aos dez dias do mês de novembro de mil e oitocentos anos, na Capela de Nossa Senhora do Carmo da Mata, filial da Matriz da Vila de São José, Comarca do Rio das Mortes, o Rvdo. Francisco de Paula Barreto com a Comissão do Rvdo. Vigário desta Matriz de São Bento do Tamanduá, João Pimenta da Consta, e em virtude...”. Falta aí um pedaço da página, mas se entende no final dela, entende-se que o casamento foi de José e Ana. Com o correr dos anos, a população do lugar foi crescendo, e vários aumentos foram realizados na primitiva construção, inclusive uma pequena torre, situada a poucos metros, no lado esquerdo de quem a olhava de fronte, e que sustentava o sino para a convocação dos fiéis. Um pouco atrás ficava o cemitério, que mais tarde foi transferido para a área nos fundos da Igreja do Rosário, na Rua Lafaiete Brandão.

O Primeiro Pároco

Até 1832, a Capela era assistida por párocos vindos ora de Oliveira, ora de Itapecerica. A partir desta data, fazendeiros bastante prósperos já ocupavam todo o vale do córrego Bom Jesus, portanto bem próximos do nascente arraial, especialmente os Pereira Cardoso, que tinham como sede a Fazenda da Tamanca, cujas divisas alcançavam as cercanias de Gonçalves Ferreira; fazenda esta, já naquela época, de propriedade de Alexandre Pereira Cardoso (por muitos anos Juiz de Paz do Distrito). Um seu cunhado foi Fortunato José Bernardes, ascendente da família Bernardes em toda a região de Oliveira e Carmo da Mata e, depois, de Santo Antônio do Monte, Lagoa da Prata, Dores do Indaiá, Luz, Bambuí etc. Em 1832, no Seminário de Mariana, a oito de abril, foi ordenado sacerdote o Padre Antônio Pereira da Paixão. Naquela época, para que pudessem exercer suas funções, era exigido aos padres que possuíssem certo patrimônio. Padre Antônio, convidado para servir na Ermida do Carmo, adquiriu terras às margens do Bom Jesus, justamente as pertencentes aos Pereira Cardoso. Ali construiu a sua casa onde é hoje a rua Padre Antônio, antiga rua Boiadeiro. Padre Antônio exerceu com zelo e dedicação o seu apostolado. Era muito humilde, modesto e bom, sendo preferido, nesta vasta região, para celebrar as festas de Nossa Senhora do Rosário, patrocinada pelos negros, viajando a cavalo, com o maior sacrifício. Depois de ser padre por cerca de 50 anos em Carmo da Mata, faleceu em janeiro de 1884, sendo sepultado na antiga Capela.

Padre Galdino Ferreira Diniz, o segundo pároco

Com o falecimento de Padre Antônio, a Capela de Carmo da Mata ficou sem titular. Entretanto, recebia assistência dos padres de Oliveira, São Francisco de Paula e Itapecerica, até que se ordenasse em 20/11/1887, no Seminário de Mariana, o Padre Galdino Ferreira Diniz. Logo veio assumir a Capelinha de Nossa Senhora do Carmo, dando também sua cooperação à Capela de Nossa Senhora do Desterro (Marilândia). Em seguida começou seu trabalho para a elevação da Capela a Curato, o que alcançou em 1904. Padre Galdino muito trabalhou por Carmo da Mata, apesar de ser natural de Itapecerica, onde nasceu a 7 de maio de 1864. Em 1906, ajudado por uma plêiade de homens notáveis, deu início à construção da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo, que foi inaugurada a 19 de outubro de 1910. O Presidente da Comissão Construtora foi o Cel. Olinto Ferreira Diniz, que muito trabalhou em companhia do Tesoureiro, Cap. José Antônio Ferreira, do Secretário Otaviano Ferreira do Amaral e dos demais membros: Virgílio Silveira, José Martins Borges, Joaquim Afonso Rodrigues, Antônio Ribeiro de Oliveira e Silva, Cel. Manoel Jorge de Mattos, Teodósio Machado da Silveira, Alberto Pinto da Silva e Francisco Marques de Assis. Na primeira lista de doações, mais de cem pessoas contribuíram, alcançando a considerável soma de mais de 30 contos de réis. Em 30 de setembro de 1906 foi lançada a pedra fundamental da portentosa construção quando foram colocados nela, jornais do país e de outras nações, moedas, tudo com discursos e banda de música (Euterpe Carmelitana), jantar em casa de Antônio Notini, seguido de animado baile iniciado às oito horas da noite quando a orquestra dava sinal à primeira quadrilha. A planta da Igreja foi feita pelo Dr. Jorge Benedito Ottoni e desenhada por Arlindo Castro. Quem executou o projeto foi o Construtor Manoel Senra Martins, trazido de Cláudio pelos seus fiadores, Coronéis Domingos e Joaquim da Silva Guimarães, o Quinca Barão.

Padre Galdino era filho de Inácio Ferreira Diniz e de Beralda Rita Linhares. Dedicou toda a sua vida a Carmo da Mata. Padre virtuoso, trouxe do Colégio do Caraça importante exemplo de vida, pois aprendeu naquela casa de ensino as virtudes pregadas por São Vicente de Paulo. Em 1936, Carmo da Mata foi elevada a Paróquia, tendo Padre Galdino sido o seu primeiro Vigário, cargo que exerceu por apenas três anos, passando os encargos ao seu coadjutor, Padre Dionísio Chagas, pois já se sentia com a saúde bastante abalada, o que não seria de se admirar, depois de ter sido pároco por mais de cinqüenta anos.

Padre Galdino, para completar seu zelo apostólico, às vésperas de seu falecimento deixou a maior parte de seus bens para a construção do belo edifício da Santa Casa de Misericórdia, chefiada pelo seu irmão, Cel. Olinto Diniz.

O Santuário de Nossa Senhora do Carmo e Padre Dionísio Chagas 

Em substituição a Padre Galdino, em 1º de janeiro de 1939, Padre Dionísio Francisco das Chagas foi nomeado Vigário da Paróquia de Carmo da Mata. Deu grande incentivo às festa religiosas e muito trabalhou, junto de Dom Cabral, no sentido de que a Matriz fosse elevada à dignidade de Santuário. Em 16 de julho de 1940, Dom Antônio dos Santos Cabral, Arcebispo de Belo Horizonte, baixou um decreto elevando a Matriz de Carmo da Mata a arquiepiscopal “Santuário de Nossa Senhora do Carmo, com o privilégio de colocar as Armas de Sua Excelência, o Senhor Arcebispo, no alto da porta principal do Santuário, tanto na parte externa como interna, e que pode sempre conservar armado o docel”. A partir daí, as comemorações do dia de nossa padroeira foram realizadas com renovado entusiasmo. A cada ano, Padre Dionísio organizava a recepção a centenas de romeiros que visitavam o Santuário. Os padres franciscanos do Convento de Divinópolis vinham em grande número, conduzidos por trem especial que chegava na cidade pela manhã e regressava à tarde, deixando em Carmo da Mata uma grande demonstração de fé e de religiosidade.

Padre Dionísio fundou muitas irmandades, reformou o Santuário e, sua grande obra, construiu a Casa Paroquial.

Lineu de Carvalho especial para Tribuna do Carmo - julho de 2008. Arquivo Revista Memória Carmense.

Nenhum comentário:

Postar um comentário