sexta-feira, 19 de julho de 2024

A Cruz do Marciano em Cláudio: um símbolo de devoção e fé, deveria ser tombado como patrimônio histórico e cultural do município



 

O local necessita de políticas públicas de preservação e proteção histórica, pelo valor afetivo dos claudienses e visitantes. 
     
Marciano Ferreira da Silva, natural de Uberaba, Minas Gerais, casado e pai de dois filhos. Em meados da década de 1940, passando dificuldades para encontrar emprego em sua terra, e sabendo que em Cláudio, cidade do Centro-Oeste de Minas, havia boas oportunidades de trabalho, decidiu vir com a família tentar a sorte em nossa cidade.  
     
Chegando aqui, ficou sabendo que havia trabalho no campo, e lhe indicaram a Fazenda de Dona Quita do Mingote, pessoa conhecida em toda a região por sua grande generosidade e desprendimento. Dona Quita contratou Marciano como retireiro, e, na Fazenda da Mata, a família ficou trabalhando e residindo por muitos anos, tendo ali nascido uma filha.Com o passar do tempo, sentiram saudades de sua terra natal, dos parentes e amigos que lá deixaram e decidiram partir, embora sentissem grande afeição pela cidade de Cláudio, que os acolheu com tanto carinho e amizade. Viveram em Uberaba durante alguns anos e, lá, Marciano descobriu que estava com hanseníase, tendo que se internar na Colônia Santa Isabel, nas proximidades de Betim, onde eram albergadas e tratadas as pessoas enfermas dessa terrível doença. 
      
Naquela época, os doentes não ficavam o tempo todo na Colônia, porque segundo se dizia, faltavam recursos para o tratamento e a manutenção dos enfermos internados. Devido a isso, eles saíam por conta própria, a cavalo ou a pé, tomando o rumo das cidades a fim de pedir esmolas, comida e agasalho. 

As pessoas tinham medo dos "morféticos" ou "leprosos" que chegavam às suas portas, mas, embora temerosos, sentiam pena e lhes davam de comer, de beber e o que precisassem Certo dia, por volta de 1956, chegaram ao Povoado de Rocinha, em Cláudio, dois portadores de hanseníase. Um deles havia caído num mata-burros e quebrara a perna. Perto desse mata-burros, havia algumas casas e, dentre elas, uma mercearia. Foi lá que os dois amigos pararam a fim de pedir socorro. Quem morava na casa era um senhor chamado João, de apelido "Dão do Nandino". Ele era casado com Maria Júlia, apelidada de 'Fiica'. O casal tinha três filhos. 
     
Dão e Fiica, juntamente com os vizinhos - Zé Mariquita, sua esposa Conceição e Ana do Chico Alves - socorreram o ferido, que se chamava Marciano e já havia trabalhado de retireiro na Fazenda da Mata. Fiica cuidou de suas feridas, sob a orientação e a boa vontade do médico Dr. Tina. Ela lhe fazia curativos, conseguia material para encanar a perna, alimentava-o, ministrava-lhe medicamentos e procurava ajuda junto a pessoas de Cláudio, como o Paulininho (Paulino Prado Filho), que lhe deu uma barraca nova de lona, e Zé Lica, (José Magalhães, de Mons. João Alexandre), que lhe doou pijama, colchões, roupas e cobertores.Dão e Fiica montaram a barraca perto do córrego, ao lado do bambuzal, e limparam os arredores. O companheiro, que saíra à procura de ajuda, nunca mais voltou. Dão e Fiica tentaram se comunicar com a Colônia Santa Isabel, mas não tiveram nenhum resultado.
     

Marciano continuou sob os cuidados de Fiica durante 3 meses e 17 dias, sentindo dores nas feridas, mesmo com os cuidados de Fiica.Sua agonia era insuportável, mas ele não
reclamava de nada. Falava pouco, mas conversava com os amigos, e ia vivendo. Ao fim de algumas semanas, devido à gravidade dos ferimentos, Marciano foi ficando mais decaído, permanecendo todo o tempo deitado e em silêncio.
     
Alimentava-se pouco e era preciso que Fiica insistisse bastante para ele tomar um caldo ou um copo de leite.Num dia em que ele estava mais abatido, Fiica perguntou-lhe o que ele gostaria de comer. Ele disse que há muito tempo não comia bacalhau com quiabo, feijão e angu. Foi o que Fiica fez e ele comeu um pouco.Naquele momento, Fiica pressentiu que ele não fosse "romper o dia" - conforme suas palavras. De fato, na manhã seguinte, ao levar-lhe o café e os remédios, Fiica encontrou-o morto, livre das dores e dos sofrimentos da vida.
     
Dão se encarregou de tomar as providências para o enterro. Dininho (Alcendino Rezende) deu-lhe o caixão, e o motorista Nana (Ferdinando Guilherme) transportou o corpo para o antigo cemitério de Cláudio.No local onde Marciano havia ficado, Dão colocou uma cruz, que, a partir de então, tornou-se um local de oração e peregrinação, e, até hoje, muitas pessoas se dirigem à 'Cruz do Marciano' para rezar e pedir graças à sua alma. Muitos dizem que ele faz milagres. Por isso é tão venerado.

* Relato histórico de Noeme Vieira de Moura, em entrevista com Maria Júlia Prado, "Fiica" do "Dão do Nandino"

Tribuna de Cláudio

quarta-feira, 10 de julho de 2024

Congados devem ser reconhecidos como Patrimônio Imaterial de MG em agosto



        

Congado é uma manifestação cultural afro-brasileira que combina elementos religiosos, musicais e dançantes
        

O congado, uma das principais manifestações culturais de Minas Gerais, está a um mês de ser considerado Patrimônio Imaterial do Estado, conforme previsão do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha).
        
Em entrevista à imprensa durante a “Expo Turismo Goiás”, o presidente do Iepha, João Paulo Martins, afirmou que o reconhecimento deve sair até o dia 10 de agosto, quando ocorrerá uma grade comemoração do feito.
      
“Os congados, através das suas festas, danças, músicas, instrumentos, representa muito bem Minas Gerais e influenciou, inclusive, na nossa música. Então esse registro vem para fazer jus àquilo que nos representa tão bem”, disse.
       
O dossiê, segundo o presidente, já está finalizado. Agora, o Instituto espera o processo de recomposição do Conselho Estadual do Patrimônio Cultural (Conep) que deve acontecer ainda neste mês. Uma reunião no início de agosto deve finalizar o processo de reconhecimento.
        
Com o congado sendo reconhecido como Patrimônio Imaterial do Estado, serão viabilizadas políticas públicas para esses grupos.
        
“A ideia de registros como esse é de acessar e entender melhor qual é a demanda de cada grupo, de cada região. Em alguns casos, pode ser algum tipo de fomento, em outros eles querem uma facilidade ou política de transporte, uniformes, oficina de instrumentos, todos esses aspectos materiais”, afirmou.
      
Outro aspecto importante quanto ao reconhecimento dos congados é evitar o preconceito, algo que eles são alvos frequentemente. “Muitos desses grupos são alvos de preconceito, intolerância e racismo religioso, então o registro também é uma ação nesse sentido de maior reconhecimento”, concluiu Martins.

TribunaWeb

Imagem de Nossa Senhora do Carmo, Padroeira de Carmo da Mata, veio de Paris no ano de 1892


Há 132 anos Carmo da Mata recebia imagem de Nossa Senhora do Carmo

“Realizou-se, no dia 08 de setembro de 1892, uma Festa de Nossa Senhora do Carmo, muito concorrida por diversas pessoas dos arraiais vizinhos e do antigo Arraial de Carmo da Mata. Foi celebrada uma Missa solene presidida por Padre Galdino e ‘acolitado’ pelos Padres José Cerqueira e João Alexandre de Mendonça, procedendo-se a benção da nova imagem, vinda de Paris. 
Pela tarde saíram, em procissão, vários fiéis do antigo Arraial. Na chegada da procissão, ao receber a imagem, podia-se ouvir, no púlpito, o Revmo Padre José Cerqueira. 
Tocaram em toda a Festa as Bandas de Itapecerica e Cláudio, ambas em fusão e muito aplaudidas. À noite, houve espetáculo dos bonecos automáticos do Sr. Alexandre Apparicio e, em seguida, animado baile.
Foram festeiros, naquele dia, os senhores Manoel Jorge de Matos e o Major José das Chagas A. Sobrinho, que muito se esmeraram pela realização da festa.

Foram batizadas, na mesma ocasião, a filha do Coronel Manoel Jorge de Mattos, que recebeu o nome de Braulina Mattos, sendo padrinhos Dr. Francisco José Coelho de Moura e esposa; e o filho do Sr. Tarquínio Dias da Silva, que recebeu o nome de Antônio. 
Também, no mesmo dia, casaram-se o Sr. Joaquim Ignácio Ribeiro com a Sra. Dona Francisca Cecília.”

Fonte de pesquisa: Gazeta de Minas edição nº 263 de 11/09/1892

Reportagem e fotos - Ricardo Câmara