quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

PARA ALÉM DO PASSADO E DO FUTURO


A cada geração que se sucede, fala-se de mudanças de valores, de comportamentos, de estilos, enfim, de formas de cultura diferentes, que põem frente a frente o antigo e o moderno. É comum a nostalgia de tempos passados, assim como também é comum a vontade de viver coisas novas.
Apresenta-se, então, a questão da convivência e/ou exclusão do tradicional e do contemporâneo. Serão de fato antagônicas ou serão complementares a tradição e a modernidade?
O novo e o velho se diferenciam, primeiramente, pela posição temporal: o antes e o agora. Desse modo, necessariamente, o que se sucede repete o anterior ou o transforma total ou parcialmente. A manutenção da escolha anterior reflete concordância ou acomodação com relação a determinado ponto de vista. A diversificação, discordância. Ora, tanto a concordância como a discordância partem de motivos que justificam a posição adotada. Tal motivação é de ordem prática e corresponde à adaptação a uma determinada forma de viver. Assim, quando escolhemos algo, escolhemos devido a alguma espécie de conforto proporcionado, seja material, psicológico, etc. Sendo assim, o que justifica a diferença de escolhas é o conjunto das condições de vida num dado momento e, por isso, a diversidade de pontos de vista entre gerações.
Isso se reflete em tudo o que escolhemos. Mas a superação trazida pelo tempo e pelas circunstâncias é suficiente para a eliminação da experiência e, portanto, daquilo que eventualmente possa ser diverso?
A história e o conhecimento de outras culturas nos faz compreender que experiência é algo que sempre deve ser aproveitado, seja na forma de objetos, obras, pensamentos ou eventos. Isso nos poupa de ter que reinventar a roda. Se tudo o que há, hoje, é a somatória de tudo o que nos foi legado após milhares de anos de vida humana, isso prova que, se fôssemos fazer tudo hoje, novamente, além de desperdício, talvez não conseguíssemos repetir a façanha de tantas invenções e criações ao longo dos tempos.
O panorama das cidades em todo o mundo mostra prédios que se exibem lado a lado em contraste e harmonia ao mesmo tempo, demonstrando a preocupação em manter, em conservar, concomitantemente com o desejo e o interesse em inovar.
As denominadas “cidades do futuro”, cujos projetos se encontram em implementação em várias localidades, representam esta visão de sustentabilidade. Ali, a moderna tecnologia se compatibiliza com as mais tradicionais culturas, buscando o equilíbrio espaço-tempo, desde a escolha do lugar das edificações segundo critérios de antepassados indígenas, passando pela construção de edifícios com tijolos do tipo adobe, pela utilização da fonte solar para produção de energia, pelos meios de transporte não poluentes, até a produção e o consumo de alimentos orgânicos (sem agrotóxicos e sem conservantes). Enfim, tudo o que envolve viver em uma cidade foi detalhadamente idealizado para o bem estar dos habitantes, aproveitando o velho, conciliando com o atual.
Esta conjugação entre o tradicional e o moderno deve resultar da consideração daquilo que seja benéfico, proveitoso, para a vida dos indivíduos e da comunidade, observadas as suas necessidades.
Sulamita Crespo Carrilho Machado *


* Advogada, Professora de Direito, Pesquisadora em Ciência e Tecnologia, Consultora e Palestrante. Graduada, Especialista e Doutora em Direito.

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