terça-feira, 15 de março de 2022

Moradores de alguns povoados rurais de Cláudio mantém tradição da Encomenda das Almas no período da Quaresma



Alguns moradores dos Povoados da Bocaina, São Bento e Machadinho localizados no entorno do município de Cláudio, ainda conservam a tradição do Culto Quaresmal de ‘Encomenda das Almas’, ou o ‘Cantar para as Almas’, que chegou ao Brasil em meados do Século XVI, a partir de um trânsito de caráter migratório, juntamente com a religiosidade e a devoção dos colonizadores portugueses. 

Ao longo de todos esses anos, no período da Quaresma, na ‘Encomenda das Almas’, os fiéis católicos saem pelas vias desses povoados e, perante algumas casas que se encontram fechadas, rezam pelos seus mortos. 
A "Encomendação das Almas" é um evento religioso que acontece em algumas cidades de Minas Gerais. A procissão conhecida como Encomendação das Almas ocorre todos os anos no período da quaresma.

O ritual sempre se inicia aproximadamente à Meia-Noite e percorre as casas das Comunidades . 
Segundo o folclorista Ulisses Passarelli, “o rito da cultura popular conhecido por Encomendação das Almas é praticado no período da quaresma, com o objetivo de rogar preces em favor das almas, visando seu progresso espiritual e alívio das penas. Objetiva, ainda, exortar aos vivos o cumprimento dos ideais cristãos para livrar-se das penas infernais. O rito, sempre noturno, tem como característica marcante o aspecto tétrico, o canto lúgubre e o cunho lendário envolvendo os mortos”.

Cada região possui seu próprio rito. 
Em São João del-Rei, o grupo responsável pela encomendação é muito antigo, talvez ‘Setecentista’. Sua composição é de homens. A execução dos cânticos é feito por instrumentos em forma de orquestra, o que trás um grande diferencial por dar mais brilhantismo ao rito. 

A ‘Cantoria’ dos grupos, após acender uma vela e fazerem algumas orações iniciais, bate-se a matraca e canta-se o “♫♫Alerta Pecadores”; logo depois um ‘rogo’ à Virgem: “Alerta, alerta, pecador! Ó Virgem Senhora; lembramos das benditas almas... Mãe dos pecadores (...)♫♫”

Em entrevista ao Jornal Tribuna, Cleonice Aparecida Pinto, a Cleonice da Dona Raquilda, do Sr. Iraci, ex proprietária de um pequeno sítio, na Comunidade de São Bento, em Cláudio,  afirma que o ritual é muito interessante, tendo nele os seus mistérios e seus misticismos, como os participantes não devem olhar para trás, em nenhum momento; o som da ‘matraca’ incrementa, ainda mais o lado tétrico do ritual, pois nos remete à Paixão de Cristo e sua morte, nas Sextas-Feiras da Paixão. 

“A gente rezava todas as quartas e sextas-feiras da Quaresma; o silêncio era profundo; nós sempre rezamos nas casas que ocupavam, em seu espaço no Povoado, aquelas que seriam numeradas por algarismos ímpares, como mandava a tradição”, declarou Cleonice. Entretanto, Cleonice lamenta muito, fica muito pesarosa ao perceber que essa tradição tem sido legara ao esquecimento, uma vez que há dois anos não acontece o tradicional rito de Encomendação. “Depois da morte da Dona ‘Lia do Bico’ e de Dona Nilma, os adeptos desse ritual dispersaram e essa tradição tende a acabar-se”, reiterou Cleonice. E continuou: “Nas noites de lua cheia, era bonito de se ver a procissão, que seguia, silenciosamente, pelo lugar”, finalizou Cleonice. 

► Equipe de Reportagem do Jornal Tribuna de Cláudio - Foto: Divulgação

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