domingo, 10 de novembro de 2024

Imigrantes libaneses : descendentes dão continuidade aos costumes herdados de seus antepassados em Carmo da Mata



Quem deseja conhecer a História de Carmo da Mata não pode esquecer o grupo de imigrantes libaneses que chegou à cidade a partir das primeiras décadas do Século XX e deu origem às várias famílias que hoje fazem parte da sociedade carmense. Os traços da imigração libanesa vão do nome de vias públicas a hábitos culinários transmitidos de geração a geração, passando por empreendimentos e episódios que integram a trajetória do município. São vários os imigrantes libaneses — equivocadamente chamados de turcos por algumas pessoas — que chegaram em Carmo da Mata, no passado, instituindo alguns costumes, assimilando outros e ajudando, enfim, a compor a paisagem urbana carmense.

A vinda de libaneses para Carmo da Mata é parte do movimento de imigração que ganhou força a partir do final do Século XIX e continuou nas primeiras décadas do Século XX. Neste período, milhares de imigrantes aportaram no Brasil. Posteriormente, vários outros chegaram ao país para se juntar aos parentes já estabelecidos, originando uma Colônia Libanesa que conseguiu integrar-se à nova terra sem perder a identidade com sua nação de origem. Entre as causas da primeira onda de imigração estão o domínio do Líbano pela Turquia, que se estendeu de 1516 até a derrota dos turcos durante a Primeira Guerra Mundial, incluindo conflitos de natureza religiosa, e a busca de melhores oportunidades de trabalho.

Uma das características mais marcantes da Colônia Libanesa era sua afinidade com o comércio. Não foram poucos os imigrantes que começaram a vida como pequenos mascates e a terminaram como grandes negociantes. Na tentativa de evitar a concorrência, era comum que os membros de uma mesma família se dividissem em municípios vizinhos ao chegar ao Brasil. Isso explica o fato de grupos familiares de Carmo da Mata terem ramificações em cidades próximas. “Muitos chegavam a Oliveira, importante centro da Região, e depois seguiam para os Distritos e cidades próximas como aventureiros laboriosos que eram”, escreveu o historiador Daniel Sampaio Teixeira.

Também houve casos de imigrantes que residiram inicialmente em Carmo da Mata e, posteriormente, em outras cidades da Região. Foi o que ocorreu com Paulo Habib Sauma e Camilo, seu amigo, que se estabeleceram na zona rural de Carmo da Mata. Após vários anos explorando o comércio de secos e molhados na comunidade dos Campos — onde havia também um casa comercial explorada por Salim Canaan —, eles se mudaram para Oliveira, onde Paulo se casou e teve dois filhos (José Paulo e Yesmin). Sócios e amigos, Camilo e Paulo tornaram-se conhecidos na sociedade carmense pela curiosidade intelectual. Ambos possuíam biblioteca e, para se manterem informados, assinavam jornais que eram entregues pela manhã em seus armazéns. 

Camilo era fluente no francês, um dos quatro idiomas falados no Líbano. (Os outros são o árabe, instituído como língua oficial, o curdo e o armênio). Para exercitar-se na conversação, ele costumava procurar pessoas que dominavam o idioma. Outro traço típico de Camilo era o uso de um longo sobretudo como outros libaneses que se mudaram de Carmo da Mata para cidades da Região. Foi o que se deu com Gibran Canaan. Filho de Salim e Salma Canaan, ele se casou com Dona Maria de Paulo, com quem teve dois filhos (Alfredo e Lourdes), tornando-se depois proprietário da Viação Canaan, que explorou a linha Oliveira-Belo Horizonte e vice-versa.
Fuad Ibrahim Simão foi outro libanês que morou em Carmo da Mata e, posteriormente, mudou-se para Pará de Minas. Fuad casou-se com Odete Faria. Tal como Paulo Sauma e Camilo, ele também tinha apego à cultura, tendo atuado no teatro durante o tempo em que residiu em Carmo da Mata. Uma das peças em que Fuad se destacou como protagonista foi “Deus e Alah. Paralelamente, Fuad mantinha atividades empresariais. Em Pará de Minas, o imigrante fundou uma indústria de confecções na qual trabalhou inicialmente com o irmão Alberto. 

Atividades Comerciais

Em Carmo da Mata, a vocação comercial dos libaneses fez surgir estabelecimentos como a Confeitaria e o Bilhar de Francisco Simão, situados na Praça Presidente Getúlio Vargas. Francisco Simão era viúvo e tinha filhos com nomes comuns no Líbano (Gibran, Michel, Sofia). A Praça Presidente Vargas sediou também uma grande confeitaria de propriedade de Elias “Turco”, outro imigrante libanês. E o mesmo local tinha uma loja do imigrante Antônio Mattar, situada onde estão hoje a Padaria Officina do Pão e a Casa Lotérica “Sorte Grande Loterias”, gerenciadas pelo empresário Jaques Silveira Mattar. 

Casado com Dona Sinhá Rios, Antônio teve vários filhos, alguns com nomes libaneses (Chaquib, Jamil, Farid, Zélafa, Diná, Cecy, Maria José, Sebastião, Marlene, Nilza, Vadede). Outro Mattar, José, também se estabeleceu na cidade, explorando uma casa comercial na Rua das Flores (hoje Rua Cesário Rios). Era comum vê-lo em seu cavalo, a caminho de comunidades rurais em busca de gêneros para seu armazém. 

Bastante diversificada, a atividade empresarial dos libaneses gerou emprego e renda em Carmo da Mata a partir da primeira metade do Século XX, ajudando a economia local a progredir. Um dos empreendedores, Miguel Francisco, fundou uma das grandes lojas que Carmo da Mata teve na época, onde foi auxiliado por Fuad Ibrahim Simão e outros, outro libanês estabelecido na cidade. Dotado de 7 portas, o estabelecimento estava situado na Praça Joaquim Afonso Rodrigues, contando ainda com um grande depósito na Rua Virgílio Silveira. Nele eram encontrados produtos de marcas diversas e novidades no mercado. De seu casamento com Dona Victória, Miguel teve o filho Pedro. 

Patriarcas

Entre os comerciantes de procedência libanesa, alguns deram origem a troncos familiares que hoje participam ativamente da vida social carmense. Entre eles estava Amim Mohamed Mattar, patriarca de um dos diversos ramos familiares de mesmo nome que se fixaram na cidade e na Região durante varias décadas. Sem fugir à regra, Amim Mattar atuou por vários anos no comércio local. Nascido na cidade libanesa de Mejdelaya, em 1905, ele imigrou aos 18 anos para o Brasil, quando já havia perdido os pais. Em 1932, depois de casar com Maria José de Jesus, conhecida como Dona Zezé do Amim, ele fundou a “Casa da Barateza”, que comercializava  vários gêneros de produtos. Do casamento vieram cinco filhos, que receberam nomes libaneses: Iecot, Kémil, Amine, Célem e Uacila. Amim, falecido em 3 de março de 1994, tinha hábitos peculiares, como o de acompanhar enterros, qualquer que fosse o falecido. 

A exemplo de vários imigrantes, ele manteve contatos com o Líbano, onde foi por três vezes, em 1951, 1974 e 1988. Também há casos de imigrantes que decidiram retornar ao Líbano em definitivo após um período de permanência na cidade. Foi o que ocorreu com Salomão Mocaren, que se casou com dona Alzira Assumpção (com quem teve o filho Saul), e Mustafa Mattar, primo de Amim, que voltou à Terra Natal após vários anos na sociedade carmense. 

Outro patriarca de origem libanesa que constituiu família numerosa em Carmo da Mata foi Fued Canaan, que dá nome a uma das Praças da cidade. Filho único e órfão de mãe, nascido em 1891, ele imigrou para o Brasil em 1913, na companhia do pai, Habib Canaan. Ambos eram naturais da cidade libanesa de Brumana. Habib, que adotou o nome Manoel, faleceu na década de 1940, aos 79 anos. Seguindo a tradição da colônia libanesa, Fued dedicou-se ao comércio, constituindo em Carmo da Mata um estabelecimento comercial onde vendia gêneros diversos. Ao contrário, porém, de conterrâneos como Amim Mattar, ele não voltou ao Líbano depois de imigrar. 

O fato de ter permanecido no Brasil não o impediu de valorizar sua ascendência libanesa, a começar pela escolha da esposa, Maria Ferreira (conhecida como Habuba, que em árabe significa “querida”), filha de imigrantes do Líbano. O casal teve dois filhos: Antônio (já falecido) e Wilson (também falecido), ex-tabelião e primeiro diretor da Escola Estadual ‘Joaquim Afonso Rodrigues’. Fued, que morreu em 12 de junho de 1956, manteria em Carmo da Mata outros traços herdados da cultura libanesa, entre eles a culinária típica. “Eu aprendi com meu pai a apreciar muita coisa, como o quibe, o tabule e a coalhada Síria”, lembrava Wilson, que morava com a esposa Maria Lúcia na casa que pertenceu ao pai. 

O exemplo dos primeiros imigrantes vem sendo seguido pelas novas gerações. Nascidos em Carmo da Mata, eles herdaram a vocação para o comércio. Desse modo, diversas empresas de destaque na sociedade carmense encontram-se nas mãos de descendentes de libaneses. Neto de Fued Canaan, o empresário Clayder Sebastiao Canaan  é proprietário de farmácia. O mesmo caminho foi trilhado pelo empresário Amim Mattar Sartori, neto de Amim Mattar e proprietário de diversos empreendimentos, dono de farmácia e distribuidora de gás. Na trajetória deles e de outros descendentes, está perpetuada a saga dos pioneiros. 

 Tribuna do Carmo

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Personalidade da Vida Claudiense: Alcendino Rezende – (O Dininho).



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Tendo nascido em Bambuí, em 27 de novembro de 1913, filho de Symphrônio Rodrigues Rezende e Alzira Sanglard Rezende, Dininho era o segundo filho de uma família de cinco irmãos. Aos 16 anos de idade, com o pai doente, assumiu a responsabilidade de criar a família. Depois de residir algum tempo com o tio numa fazenda do arraial de Macacos, estabeleceu-se em Cláudio com os irmãos. Durante um ano, tentou ganhar a vida em lavouras de café no Estado de São Paulo, retornando a Cláudio, onde passou a trabalhar na roça.

Casou-se, nessa mesma época, com Alice, sua prima. Tiveram onze filhos: Almir, Altair, Aldir, Alcir, Aldemir, Aldenir, Alice, Alvanir, Alcendino, Altamir e Aldair. Ainda jovem, comprou um caminhão velho e começou a fazer carretos entre Belo Horizonte e Cláudio, transportando não só mercadorias, mas também trazendo o progresso para a cidade que adotara como terra natal. Desempenhou um papel importante no desenvolvimento do município de Cláudio.

Influente e respeitado por todos, Dininho foi Diretor da Companhia Telefônica de Cláudio _ COTECLA. Trabalhou arduamente, junto a outros claudienses, para que se instalasse na cidade a antena repetidora de TV; incentivou o estabelecimento do comércio na região e foi um dos colaboradores na fundação da Santa Casa de Misericórdia.

Foi um exemplo de cidadão consciente e dinâmico, sempre buscando o melhor para sua cidade. Pai amoroso e esposo dedicado, educou os filhos com o carinhoso rigor próprio daqueles tempos, contando com a inestimável ajuda da esposa Alice, companheira terna e leal, sempre firme nos bons e maus momentos que enfrentaram na luta pelo pão de cada dia e na criação dos filhos.

Bom amigo, prestativo, jovial e compreensivo, Dininho é lembrado com carinho pelos mais velhos, que ainda chamam o Posto São Cristóvão de "Posto do Dininho". Suas fragorosas gargalhadas ecoavam sempre que ouvia uma boa anedota ou um caso típico da cidade, especialmente se envolvia caminhoneiros.

Cláudio deve a Alcendino Rezende muito de suas conquistas, tanto pelo que ele fez, quanto pelos filhos que ele e dona Alice souberam criar, os quais hoje participam ativamente da construção do futuro desta terra abençoada. Sem dúvida, um grande claudiense, que merece nosso aplauso e nossa homenagem.

Com informações de Vilma Fazitto
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Tendo nascido em Bambuí, em 27 de novembro de 1913, filho de Symphrônio Rodrigues Rezende e Alzira Sanglard Rezende, Dininho era o segundo filho de uma família de cinco irmãos. Aos 16 anos de idade, com o pai doente, assumiu a responsabilidade de criar a família. Depois de residir algum tempo com o tio numa fazenda do arraial de Macacos, estabeleceu-se em Cláudio com os irmãos. Durante um ano, tentou ganhar a vida em lavouras de café no Estado de São Paulo, retornando a Cláudio, onde passou a trabalhar na roça.

Casou-se, nessa mesma época, com Alice, sua prima. Tiveram onze filhos: Almir, Altair, Aldir, Alcir, Aldemir, Aldenir, Alice, Alvanir, Alcendino, Altamir e Aldair. Ainda jovem, comprou um caminhão velho e começou a fazer carretos entre Belo Horizonte e Cláudio, transportando não só mercadorias, mas também trazendo o progresso para a cidade que adotara como terra natal. Desempenhou um papel importante no desenvolvimento do município de Cláudio.

Influente e respeitado por todos, Dininho foi Diretor da Companhia Telefônica de Cláudio _ COTECLA. Trabalhou arduamente, junto a outros claudienses, para que se instalasse na cidade a antena repetidora de TV; incentivou o estabelecimento do comércio na região e foi um dos colaboradores na fundação da Santa Casa de Misericórdia.

Foi um exemplo de cidadão consciente e dinâmico, sempre buscando o melhor para sua cidade. Pai amoroso e esposo dedicado, educou os filhos com o carinhoso rigor próprio daqueles tempos, contando com a inestimável ajuda da esposa Alice, companheira terna e leal, sempre firme nos bons e maus momentos que enfrentaram na luta pelo pão de cada dia e na criação dos filhos.

Bom amigo, prestativo, jovial e compreensivo, Dininho é lembrado com carinho pelos mais velhos, que ainda chamam o Posto São Cristóvão de "Posto do Dininho". Suas fragorosas gargalhadas ecoavam sempre que ouvia uma boa anedota ou um caso típico da cidade, especialmente se envolvia caminhoneiros.

Cláudio deve a Alcendino Rezende muito de suas conquistas, tanto pelo que ele fez, quanto pelos filhos que ele e dona Alice souberam criar, os quais hoje participam ativamente da construção do futuro desta terra abençoada. Sem dúvida, um grande claudiense, que merece nosso aplauso e nossa homenagem.Com informações de Vilma Fazitto

sábado, 2 de novembro de 2024

Um passeio pelo Cemitério Municipal de Carmo da Mata, é uma verdadeira aula de história e arte



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O Cemitério de Carmo da Mata, tem muita coisa para contar.

Os cemitérios ou necrópoles guardam pedaços da História. Eles são muito mais do que um lugar de descanso para entes queridos. Ele ultrapassa suas funções ritualísticas e religiosas para se tornar, também, um patrimônio arqueológico, histórico e cultural. Andar por um cemitério pode proporcionar muito mais do que o sentimento de tristeza. Eles nos oferecem uma viagem no tempo. São também espaços de manifestações artísticas. A arte tumular pode despertar os sentidos, trazer prazer ao observador. Alguns cemitérios possuem jardins tão perfeitos, que mais parecem fruto projetos paisagísticos (se não o forem).

Alguns cemitérios podem ser considerados como museus ao ar livre, com coleções de túmulos únicas, que contam e registram histórias.  

Os cemitério, em alguns países, tornaram-se espaços de visitação turística disputadíssimos. A prática de se visitar cemitérios pelo simples prazer de conhecê-lo tem até um nome: necroturismo.

TribunaWeb